No ano seguinte, o Ateneu revelou-se-me noutro aspecto. Conhecera-o interessante, com as seduções do
UNICAMP 2022 - QUESTÃO 06
No ano seguinte, o Ateneu revelou-se-me noutro aspecto. Conhecera-o interessante, com as seduções do que é novo, com as projeções obscuras de perspectiva, desafiando curiosidade e receio; conhecera-o insípido e banal como os mistérios resolvidos, caiado de tédio; conhecia-o agora intolerável como um cárcere, murado de desejos e privações.
(Raul Pompeia, O Ateneu. 7ª. ed. São Paulo: Ática, 1980, p. 98.)
Com base no excerto que inicia o capítulo VIII do romance de Raul Pompéia e no seu subtítulo – crônica de saudades –, é correto afirmar que a obra é
a) um relato, em primeira pessoa, de experiências coletivas e íntimas, no qual o protagonista mostra aspectos da realidade social, valorizando o sistema escolar e prisional.
b) um romance de formação, no qual o protagonista revela condutas e intrigas no ambiente escolar, com elogios à pedagogia corretiva e aos valores morais da burguesia.
c) uma narrativa memorialista de experiências vividas num internato, na qual o protagonista revela aspectos do sistema educacional da época, com críticas à hipocrisia burguesa.
d) um relato saudosista de experiências vividas no internato, no qual o protagonista mostra o poder de sedução e corrupção das amizades, com críticas à falsidade da burguesia.
QUESTÃO ANTERIOR:
- (...) eu sou um pobre relojoeiro que, cansado de ver que os relógios deste mundo não marcam a mesma
RESOLUÇÃO (Cursos Objetivo):
O romance O Ateneu (1888) é memorialista, pois o narrador adulto, Sérgio, relembra a sua vida tensa e decepcionante no internato, que tinha como alunos os filhos da burguesia do Segundo Reinado. A escola é o microcosmo da sociedade e, no ambiente de O Ateneu, coexistem as mesmas mazelas do mundo exterior e da psicologia e hipocrisia humana. No final do romance, o incêndio do internato, provocado por Américo, é a vingança que se faz contra essa célula de um corpo social deturpado moral e politicamente.
A alternativa d é improcedente, pois não se pode considerar que essa narrativa e esse excerto apresentem sentido saudosista (“gosto fundado na valorização demasiada do passado”, conforme o dicionário Houaiss). O próprio narrador ironiza o conceito “crônica de saudades”, o subtítulo, no final do romance: “Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo – o funeral para sempre das horas”.
GABARITO:
c) uma narrativa memorialista de experiências vividas num internato, na qual o protagonista revela aspectos do sistema educacional da época, com críticas à hipocrisia burguesa.
PRÓXIMA QUESTÃO:
QUESTÃO DISPONÍVEL EM: