Leia o capítulo CVI, “Jogo perigoso” do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para responder às questões de 15 a 20...
Leia o capítulo CVI, “Jogo perigoso” do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para responder às questões de 15 a 20.
Respirei e sentei-me. D. Plácida atroava a sala com exclamações e lástimas. Eu ouvia, sem lhe dizer coisa nenhuma; refletia comigo se não era melhor ter fechado Virgília na alcova e ficado na sala; mas adverti logo que seria pior; confirmaria a suspeita, chegaria o fogo à pólvora, e uma cena de sangue... Foi muito melhor assim. Mas depois? que ia acontecer em casa de Virgília? matá-la-ia o marido? espancá-la-ia? encerrá-la-ia? expulsá-la-ia? Estas interrogações percorriam lentamente o meu cérebro, como os pontinhos e vírgulas escuras percorrem o campo visual dos olhos enfermos ou cansados. Iam e vinham, com o seu aspecto seco e trágico, e eu não podia agarrar um deles e dizer: és tu, tu e não outro.
De repente vejo um vulto negro; era D. Plácida, que fora dentro, enfiara a mantilha, e vinha oferecer-se-me para ir à casa do Lobo Neves. Ponderei-lhe que era arriscado, porque ele desconfiaria da visita tão próxima.
— Sossegue, interrompeu ela; eu saberei arranjar as coisas. Se ele estiver em casa não entro.
Saiu; eu fiquei a ruminar o sucesso e as consequências possíveis. Ao cabo, parecia-me jogar um jogo perigoso, e perguntava a mim mesmo se não era tempo de levantar e espairecer. Sentia-me tomado de uma saudade do casamento, de um desejo de canalizar a vida. Por que não? Meu coração tinha ainda que explorar; não me sentia incapaz de um amor casto, severo e puro. Em verdade, as aventuras são a parte torrencial e vertiginosa da vida, isto é, a exceção; eu estava enfarado delas; não sei até se me pungia algum remorso. Mal pensei naquilo, deixei-me ir atrás da imaginação; vi-me logo casado, ao pé de uma mulher adorável, diante de um baby, que dormia no regaço da ama, todos nós no fundo de uma chácara sombria e verde, a espiarmos através das árvores uma nesga do céu azul, extremamente azul...
(Memórias póstumas de Brás Cubas, 2001.)
FMABC 2022 - QUESTÃO 18
Objeto direto interno: É o complemento constituído por substantivo cognato do verbo ou da esfera semântica deste: “Os olhos pestanejavam e choravam lágrimas quen tes, que eu enxugava na manga. (Graciliano Ramos, Angústia)
(Domingos Paschoal Cegalla. Dicionário de dificuldades
da língua portuguesa, 2009. Adaptado.)
Ocorre objeto direto interno no seguinte trecho:
a) “D. Plácida atroava a sala com exclamações e lástimas” (1º parágrafo).
b) “Sentia-me tomado de uma saudade do casamento” (4º parágrafo).
c) “Estas interrogações percorriam lentamente o meu cérebro” (1º parágrafo).
d) “Ao cabo, parecia-me jogar um jogo perigoso” (4º parágrafo).
e) “De repente vejo um vulto negro” (2º parágrafo).
QUESTÃO ANTERIOR:
RESOLUÇÃO (Cursos Objetivo):
O objeto direto interno ocorre quando um verbo e seu objeto direto, usados na mesma frase, apresentam o mesmo significado ou pertencem ao mesmo semântico: Sonhei um sonho, por exemplo. “Um jogo perigoso” é objeto direto interno do verbo “jogar”: “parecia-me jogar um jogo perigoso”.
GABARITO:
d) “Ao cabo, parecia-me jogar um jogo perigoso” (4º parágrafo).
PRÓXIMA QUESTÃO:
QUESTÃO DISPONÍVEL EM: