UNITINS 2022.1 - QUESTÃO 45 Agora falávamos insistentemente da nossa “amizade eterna”, projetos de nos vermos diariamente a vida inteira, ju...
UNITINS 2022.1 - QUESTÃO 45
Agora falávamos insistentemente da nossa “amizade eterna”, projetos de nos vermos diariamente a vida inteira, juramentos de um fechar os olhos do que morresse primeiro. Comentando às claras o nosso amor de amigo, como que procurávamos nos provar que daí não podia nos vir nenhum mal, e principalmente nenhuma realização condenada pelo mundo.
Condenação que aprovávamos com assanhamento. Era um jogo de cabeças unidas quando sentávamos pra estudar juntos, de mãos unidas sempre, e alguma vez mais rara, corpos enlaçados nos passeios noturnos. E foi aquele beijo que lhe dei no nariz depois, depois não, de repente no meio duma discussão rancorosa sobre se Bonaparte era gênio, eu jurando que não, ele que sim. – Besta! – Besta é você! Dei o beijo, nem sei! parecíamos estar afastados léguas um do outro nos odiando.
Frederico Paciência recuou, derrubando a cadeira. O barulho facilitou nosso fragor interno, ele avançou, me abraçou com ansiedade, me beijou com amargura, me beijou na cara em cheio dolorosamente. Mas logo nos assustou a sensação de condenados que explodiu, nos separamos conscientes. Nos olhamos olho no olho e saiu o riso que nos acalmou. Estávamos verdadeiros e bastantes ativos na verdade escolhida. Estávamos nos amando de amigo outra vez; estávamos nos desejando, exaltantes no ardor, mas decididos, fortíssimos, sadios.
– Precisamos tomar mais cuidado. Quem falou isso? Não sei se fui eu se foi ele, escuto a frase que jorrou de nós. Jamais fui tão grande na vida.
Mas agora já éramos amigos demais um do outro, já o convívio era alimento imprescindível de cada um de nós, para que o cuidado a tomar decidisse um afastamento. Continuamos inseparáveis, mas tomando cuidado. Não havia mais aquele jogo de mãos unidas, de cabeças confundidas. E quando por distração um se apoiava no outro, o afastamento imediato, rancoroso deste, desapontava o inocente.
ANDRADE, Mário de. Contos Novos. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2011, p.64
Sobre o trecho citado, assinale a alternativa correta.
A) Pertencente ao Modernismo brasileiro, Frederico Paciência é um conto ousado para a época, quanto à temática abordada: as lembranças do narrador sobre uma amizade que se transforma em paixão velada entre dois jovens amigos estudantes secundaristas.
B) Trata do enamoramento entre os dois rapazes e da convivência sem conflito ou limitação da amizade, após a descoberta. Esse traço da naturalização e aceitação do desejo casto, puro e eterno aproxima o conto ao romantismo brasileiro.
C) A expressão “o nosso amor de amigo”, usada pelo narrador para definir o sentimento existente entre ele e Frederico Paciência, é uma referência direta às cantigas de amigo da literatura trovadoresca.
D) As descrições sobre a sensação de torpor, o desejo sem controle, a confusão da mente e as reações do corpo são traços da literatura naturalista que retrata a homossexualidade como patologia, assim como faz o narrador de Frederico paciência.
E) Expõe a rejeição mútua pelo sentimento desenvolvido entre os dois amigos. Essa rejeição fica evidente através do uso das expressões “condenação, amargura, condenados, rancoroso, afastamento imediato”.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
A) Pertencente ao Modernismo brasileiro, Frederico Paciência é um conto ousado para a época, quanto à temática abordada: as lembranças do narrador sobre uma amizade que se transforma em paixão velada entre dois jovens amigos estudantes secundaristas.
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