A construção de uma história oficial não é um recurso inócuo ou sem importância; tem um papel estratégic
Leia o texto a seguir para responder às questões de 5 a 9.
A construção da história oficial
A construção de uma história oficial não é um recurso inócuo ou sem importância; tem um papel estratégico nas políticas de Estado, engrandecendo certos eventos e suavizando problemas que a nação vivenciou no passado mas prefere esquecer, e cujas raízes ainda encontram repercussão no tempo presente. O procedimento acaba, igualmente, por autorizar apenas uma interpretação, quando se destacam determinadas atuações e formas de sociabilidade, obliterando-se outras. O objetivo é, como mostrou Von Martius, fazer o armistício com o passado: criar um passado mítico, perdido no tempo, repleto de harmonia, mas também construído na base da naturalização de estruturas de mando e obediência.
Esse tipo de modelo, que tem muito de imaginário e projetivo, não raro funciona como argamassa para as várias “teorias do senso comum”. E, por aqui, a história do dia a dia costuma sustentar-se a partir de quatro pressupostos tão básicos como falaciosos. O primeiro deles leva a supor que este seja, unicamente, um país harmônico e sem conflitos. O segundo, que o brasileiro seria avesso a qualquer forma de hierarquia, respondendo às adversidades sempre com uma grande informalidade e igualdade. O terceiro, que somos uma democracia plena, na qual inexistiriam ódios raciais, de religião e de gênero. O quarto, que nossa natureza seria tão especial, que nos asseguraria viver num paraíso. Por sinal, até segunda ordem, Deus (também) é brasileiro.
Longe de constituir narrativas aferíveis, esses são modelos que dizem respeito a agendas tão profundas como ambíguas, e que, por isso mesmo, funcionam na base da falta de contestação e do silêncio. E, quando persiste o silêncio, é porque existe, com certeza, excesso de barulho. Barulho e incômodo social.
O problema é que essa espécie de história, muito pautada em mitos nacionais, de tão enraizada costuma resistir à danada da realidade. Como é possível definir o Brasil como um território pacífico se tivemos por séculos em nosso solo escravizados e escravizadas, admitindo-se, durante mais de trezentos anos, um sistema que supõe a posse de uma pessoa por outra? Lembremos que o Brasil foi o último país a abolir tal forma de trabalho forçado nas Américas — depois de Estados Unidos, Porto Rico e Cuba.
Outra pergunta: como é possível representar o país a partir da ideia de uma suposta coesão, partilhada por todos os cidadãos, quando ainda somos campeões no quesito desigualdade social, racial e de gênero, o que é comprovado por pesquisas que mostram a existência de práticas cotidianas de discriminação de toda natureza?
Dizem que perguntar é uma forma de resistir. Pois penso que uma história crítica é aquela que sabe “desnaturalizar” o que parece dado pela biologia e que se apresenta, por consequência, como imutável. Não existe nada em nosso sangue ou no DNA dos brasileiros que indique serem todos esses elementos imunes à nossa ação humana e cidadã.
Também não é boa ideia fazer o oposto: relegar ao passado e ao “outro”, que viveu antes de nós, tudo que nos incomoda no presente. Racista é “alguém outro” (não eu mesmo), o patrimonialismo é uma herança da nossa história pregressa, a desigualdade foi consequência da escravidão, e ponto-final. O certo é que é impossível jogar num tempo distante e inatingível todas as nossas mazelas atuais.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro.
São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 21-24. (Adaptado).
UEG 2022 - QUESTÃO 05
É ideia defendida no texto:
a) O Brasil é um país homogêneo socialmente, fato que garante a existência de uma democracia que respeita e protege os direitos das pessoas.
b) Existe uma grande coesão e harmonia social no Brasil, apesar da desigualdade social, de gênero, de raça, que se manifesta por meio da discriminação.
c) O modelo de história a ser promovido na educação básica deve valorizar os símbolos nacionais, enfatizar a unidade e engradecer os heróis da independência.
d) A criação de uma história oficial ajuda a mostrar as ambiguidades e os problemas da sociedade, o que favorece um clima de contestação e questionamento.
e) A construção de uma história pautada em mitos nacionais busca promover uma pacificação do passado, na qual se louvam alguns eventos e se apagam outros.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
a) O Brasil é um país homogêneo socialmente, fato que garante a existência de uma democracia que respeita e protege os direitos das pessoas.
RESOLUÇÃO:
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