Mesmo em seus primeiros livros, quando ainda o cerceavam os cânones românticos e possivelmente o inibia
UNIFESP 2023 - QUESTÃO 07
Mesmo em seus primeiros livros, quando ainda o cerceavam os cânones românticos e possivelmente o inibia a timidez, o receio de ser diferente dos outros, de enveredar por caminhos até então indevassáveis, já as suas figuras se distinguem pela independência em relação ao meio físico e ao moralismo convencional.
Não obedeceu nem ao preconceito, então de rigor, de filiar à natureza tropical o feitio das criaturas, nem ao de fazer personagens exclusivamente boas ou más, tão caro ao romantismo.
Sem preocupação de escola literária desde que se libertou do romantismo, ele observou, como ninguém entre nós, as criaturas em toda a sua realidade, dando a cada aspecto o justo valor, isto é, apreciando a todos com um critério relativo.
Foi assim que esse tímido realizou uma audaciosa revolução na nossa literatura ficcionista, até ele subordinada a valores absolutos, que reduziam a simples figurantes as personagens dominadas pela natureza e pela ética convencional.
Dentro, porém, do mundo burguês que descreveu, e que foi, afinal, o seu, não se contentou com as aparências; abismava-se na contemplação das perspectivas inumeráveis da alma humana. Tudo o que o homem da época e da condição de suas criaturas pode pensar, sentir e sonhar, ele o perscrutou. A realidade que via se prolongava na que pressentia, nas reações interiores que acima de tudo o atraíam.
(Lúcia Miguel Pereira. História da
literatura brasileira: prosa de ficção, 1988. Adaptado.)
O texto trata do escritor
(A) Graciliano Ramos.
(B) José de Alencar.
(C) Aluísio Azevedo.
(D) Machado de Assis.
(E) Manuel Antônio de Almeida.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
(D) Machado de Assis.
RESOLUÇÃO:
De acordo com Lúcia Miguel Pereira, Machado de Assis, incialmente, valeu-se de características românticas em suas obras, mas abriu mão delas afastando-se da tendência de elaborar personagens “exclusivamente boas ou más”. Machado descreveu o mundo burguês, contemplando “perspectivas inumeráveis da alma humana”, enfatizando a análise psicológica, valores que fizeram de seus livros uma “revolução na nossa literatura ficcionista”.
Leia o trecho do livro O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano, do neurocientista português António Rosa Damásio, para responder às questões de 08 a 11.
O principal enfoque em O erro de Descartes é a relação entre emoção e razão. Baseado em meu estudo de pacientes neurológicos que apresentavam deficiências na tomada de decisão e distúrbios da emoção, construí a hipótese de que a emoção era parte integrante do processo de raciocínio e poderia auxiliar esse processo ao invés de, como se costumava supor, necessariamente perturbá-lo. Hoje em dia essa ideia já não causa espécie, mas na época em que a apresentei muita gente estranhou, e mesmo a recebeu com certo ceticismo. Tudo sopesado, a ideia, em grande medida, foi aceita e até, em certos casos, acolhida com tanta sofreguidão que acabou deturpada. Por exemplo, nunca afirmei que a emoção era um substituto para a razão, mas em algumas versões superficiais depreendia-se que minha ideia era que se você seguisse o coração em vez da razão tudo daria certo.
Na verdade, em certas ocasiões a emoção pode ser um substituto para a razão. O programa de ação emocional que denominamos medo pode afastar rapidamente do perigo a maioria dos seres humanos com pouca ou nenhuma ajuda da razão. Um esquilo ou um pássaro não pensa para reagir a uma ameaça, e o mesmo pode acontecer a um humano. Aí é que está a beleza no modo como a emoção tem funcionado no decorrer da evolução: ela abre a possibilidade de levar seres vivos a agir de maneira inteligente sem precisar pensar com inteligência. Acontece que, nos humanos, essa história tornou-se mais complexa, para o bem e para o mal. O raciocínio faz o que fazem as emoções, mas alcança o resultado conscientemente. O raciocínio nos dá a opção de pensar com inteligência antes de agir de maneira inteligente, e isso é bom: descobrimos que muitos dos problemas que encontramos em nosso complexo ambiente podem ser resolvidos apenas com emoções, porém não todos, e nestas ocasiões as soluções que a emoção oferece são, na realidade, contraproducentes.
Mas como evoluiu nas espécies complexas o sistema de raciocínio inteligente? A proposta inovadora em O erro de Descartes é que o sistema de raciocínio evoluiu como uma extensão do sistema emocional automático, com a emoção desempenhando vários papéis no processo de raciocínio.
(O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano, 2012. Adaptado.)
PRÓXIMA QUESTÃO:
QUESTÃO DISPONÍVEL EM: