“Oh! Esperança! Só a têm os desgraçados no refúgio que a todos oferece a sepultura!...” (11º parágrafo)
Leia o trecho do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, para responder às questões de 01 a 05.
Era apenas o alvorecer do dia, dissemos nós, e esse dia era belo como soem ser os do nosso clima equatorial onde a luz se derrama a flux¹ — brilhante, pura e intensa. Vastos currais de gado por ali havia; mas tão desertos a essa hora matutina, que nenhuma esperança havia de que alguém socorresse o jovem cavaleiro, que acabava de desmaiar. E o sol já mais brilhante, e mais ardente e abrasador, subia pressuroso a eterna escadaria do seu trono de luz, e dardejava seus raios sobre o infeliz mancebo!
Nesse comenos² alguém despontou longe, e como se fora um ponto negro no extremo horizonte. Esse alguém, que pouco e pouco avultava, era um homem, e mais tarde suas formas já melhor se distinguiam. [...]
Ao endireitar-se para um bosque a cata sem dúvida da fonte que procurava, seus olhos se fixaram sobre aquele triste espetáculo.
— Deus meu! — exclamou correndo para o desconhecido.
E o coração tocou-lhe piedoso interesse, vendo esse homem lançado por terra, tinto em seu próprio sangue, e ainda oprimido pelo animal já morto. E ao aproximar-se contemplou em silêncio o rosto desfigurado do mancebo; curvou-se, e pôs-lhe a mão sobre o peito, e sentiu lá no fundo frouxas e espaçadas pulsações, e assomou-lhe ao rosto riso fagueiro de completo enlevo; da mais íntima satisfação. O mancebo respirava ainda.
— Que ventura! — então disse ele, erguendo as mãos ao céu — que ventura, podê-lo salvar!
O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar vinte e cinco anos, e que na franca expressão de sua fisionomia deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem formado. O sangue africano fervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se a odiosa cadeia da escravidão; e embalde³ o sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam resfriar, embalde — dissemos — se revoltava; porque se lhe erguia como barreira — o poder do forte contra o fraco!...
Ele entanto resignava-se; e se uma lágrima a desesperação lhe arrancava, escondia-a no fundo da sua miséria.
Assim é que o triste escravo arrasta a vida de desgostos e de martírios, sem esperança e sem gozos!
Oh! Esperança! Só a têm os desgraçados no refúgio que a todos oferece a sepultura!... Gozos!... Só na eternidade os anteveem eles!
Coitado do escravo! Nem o direito de arrancar do imo⁴ peito um queixume de amargurada dor!!...
Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima — ama a teu próximo como a ti mesmo
—, e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante.
Àquele que também era livre no seu país... Àquele que é seu irmão?!
E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como a sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu a vista.
(Úrsula, 2018.)
¹a flux: abundantemente.
²comenos: instante.
³embalde: inutilmente.
⁴imo: íntimo, profundo.
FMABC 2023 - QUESTÃO 04
“Oh! Esperança! Só a têm os desgraçados no refúgio que a todos oferece a sepultura!...” (11º parágrafo)
As palavras grifadas no trecho são, respectivamente,
a) artigo, preposição e pronome.
b) pronome, preposição e artigo.
c) preposição, pronome e artigo.
d) pronome, preposição e preposição.
e) pronome, artigo e artigo.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
b) pronome, preposição e artigo.
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