Que seria de nós, hoje, se a Providência não no-la houvesse permitido? Que seria de nós, se...? Suponhamos que
Texto para os itens de 1 a 20.
Que seria de nós, hoje, se a Providência não no-la houvesse permitido? Que seria de nós, se...? Suponhamos que Deus não houvesse criado o sol... A terra seria deserta, nua, tenebrosa, e os mais planetas, que, com ela, estendem as suas órbitas derredor daquele disco abrasado, reverberando-lhe os raios luminosos, vagariam, sombras errantes, pelo espaço, à tênue claridade das estrelas.
Para o nosso mundo toda a fecundidade, toda a beleza, toda a alegria vem do sol. Grande criador, porém, o sol é, ao mesmo tempo, “o grande putrefator”. Ao calor, emanação dos seus raios, nascem as plantas, nascem os animais, nasce o homem, surge, respira e se alimenta a vida. Mas, também, ao mesmo calor que dele deriva, se desenvolvem todos os processos da morte: as fermentações, as decomposições, as putrescências. Ao sol riem os jardins, e abrem as flores. Ao sol esfergulham as vermineiras, e se decompõem os monturos. Aquece-nos o sangue; mas, ao mesmo passo, aviventa os germens, que no-lo destroem.
Entre essas duas funções a ignorância não sabe discernir, e aproveitar. A ciência as discrimina e utiliza. Com a ignorância o sol torra, derranca, e mata. Com a ciência o sol fecunda, preserva e cria. Se Deus nos não suscitasse a missão de Osvaldo Cruz, o Brasil teria o mesmo sol, com a mesma exuberância de maravilhas, mas o sol com a peste, com o impaludismo, com a febre amarela, com a doença do barbeiro, com a úlcera de Bauru, com todas essas desgraças, até então irremediáveis, que esse homem, superior ao seu tempo e ao seu país, deixou extintas ou em via de se extinguirem. Dar o sol, e não dar a ciência, é deixar apenas meio sol, ou um sol malogrado: o sol com a doença, a esterilidade e o luto.
Deus nos havia dadivado os benefícios do sol tropical. Com Osvaldo Cruz nos acrescentou os da ciência, que o corrige. Podemo-nos congratular, agora, de termos o sol estreme dos seus descontos, o sol sem as suasmalignidades, o bem-logrado sol dos países saneados.
Rui Barbosa. Osvaldo Cruz: Discurso pronunciado na sessão cívica de 28
de maio de 1917, no Teatro Municipal. Prefácio de Carlos Chagas Filho.
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1999. p. 60-61.
CREMERN - QUADRIX 2022
Considerando as ideias, os sentidos e os aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue os itens de 1 a 8.
1 O texto estabelece um contraste entre duas funções distintas do sol, associando-o, por um lado, às ideias de criação, fecundidade, beleza e alegria e, por outro lado, às noções de morte, esterilidade, decomposição e destruição.
2 Infere-se do texto que a ciência é capaz de tirar o melhor proveito do sol, eliminando suas malignidades e evidenciando seu potencial criador.
3 No primeiro parágrafo, o autor faz uma série de conjecturas a respeito de como seria o Brasil se Osvaldo Cruz não tivesse atuado na área médica.
4 As desgraças a que Rui Barbosa se refere na linha 26 — que incluem a peste, o impaludismo e a febre amarela — foram, de acordo com o autor, extintas por um competente grupo de cientistas.
5 De acordo com o segundo parágrafo, o Brasil, sem a figura de Osvaldo Cruz, teria dois sóis distintos: um exuberante, dotado de maravilhas, e um malogrado, causador de doenças irremediáveis.
6 Depreende-se do texto que, em um ambiente no qual não há desenvolvimento científico, o sol perde seus atributos e torna-se inerte, incapaz de atuar.
7 O autor do texto considera Osvaldo Cruz como uma pessoa à frente de seu tempo, atribuindo grande importância à contribuição científica deste homem no território brasileiro.
8 O principal objetivo do texto é argumentar, a partir da figura de Osvaldo Cruz, a favor de políticas públicas de fomento à pesquisa científica na área de saúde.
GABARITO:
1-C
2-C
3-E
4-E
5-E
6-E
7-C
8-E
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