A figura do andarilho é uma constante na obra de Manoel de Barros. Geralmente, em seus poemas, o andarilho
UNISC 2023 - QUESTÃO 07
A figura do andarilho é uma constante na obra de Manoel de Barros. Geralmente, em seus poemas, o andarilho representa a despersonalização do indivíduo e o despojamento, como forma originária do poético. Em O livro sobre nada, o andarilho é figurado a partir de Andaleço. Considerando a leitura do poema na íntegra, analise as assertivas.
O andarilho
Eu já disse quem sou Ele.
Meu desnome é Andaleço.
Andando devagar eu atraso o final do dia.
Caminho por beiras de rios conchosos.
Para as crianças da estrada eu sou o Homem do Saco.
Carrego latas furadas, pregos, papéis usados.
(Ouço harpejos de mim nas latas tortas.)
Não tenho pretensões de conquistar a inglória perfeita.
Os loucos me interpretam.
A minha direção é a pessoa do vento.
Meus rumos não têm termômetro.
De tarde arborizo pássaros.
De noite os sapos me pulam.
Não tenho carne de água.
Eu pertenço de andar atoamente.
Não tive estudamento de tomos.
Só conheço as ciências que analfabetam.
Todas as coisas têm ser?*
Sou um sujeito remoto.
Aromas de jacintos me infinitam.
E estes ermos me somam.
*Penso que devemos conhecer algumas poucas cousas sobre a fisiologia dos andarilhos. Avaliar até onde o isolamento tem o poder de influir sobre os seus gestos, sobre a abertura de sua voz, etc. Estudar talvez a relação desse homem com as suas árvores, com as suas chuvas, com as suas pedras. Saber mais ou menos quanto tempo o andarilho pode permanecer em suas condições humanas, antes de se adquirir do chão a modo de um sapo. Antes de se unir às vergônteas como as parasitas. Antes de revestir uma pedra à maneira do limo. Antes mesmo de ser apropriado por relentos como os lagartos. Saber com exatidão quando que um modelo de pássaro se ajustará à sua voz. Saber o momento em que esse homem poderá sofrer de prenúncios. Saber enfim qual o momento em que esse homem começa a adivinhar.
BARROS, Manoel de. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010, p.353.
I – No poema, percebemos que o olhar incomum do andarilho em relação ao espaço por onde anda atoamente é fundamento para a sua reflexão.
II – O acréscimo da nota de rodapé derivada da pergunta “Todas as coisas têm ser?*” comprova que o andarilho, na obra de Manoel de Barros, possui uma filosofia própria.
III – Com o verso “Todas as coisas têm ser?*”, o eu lírico dialoga com o leitor, convidando-o à compreensão do processo de tornar-se andarilho.
IV – Ao anunciar Andaleço como seu desnome, o eu lírico corrobora a não necessidade de uma identidade para a figura do andarilho, que se desconhece enquanto sujeito.
V – No poema, as ciências que analfabetam legitimam a simbologia de uma figura que aprende na informalidade.
Assinale a alternativa correta.
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Somente a afirmativa IV está incorreta.
c) Somente as afirmativas IV e V estão incorretas.
d) Todas as afirmativas estão incorretas.
e) Somente as afirmativas I, II e V estão corretas.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
b) Somente a afirmativa IV está incorreta.
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