O campo da História Indígena e do Indigenismo enfrenta alguns desafios. Diante de uma historiografia
A representação dos povos indígenas é tema que interessa não apenas à Literatura. Veja, por exemplo, o Texto 6, que foi escrito por historiadores. É esse texto que serve de base às Questões 02, 03, 04 e 05.
Texto 6
O campo da História Indígena e do Indigenismo enfrenta alguns desafios. Diante de uma historiografia na qual os povos indígenas têm presença diminuta e na qual comparecem como objeto do interesse de outros agentes, elegê-los como foco das análises é, já, uma tarefa de monta. A oferta de documentos constitui uma outra batalha. Quanto mais nos distanciamos do tempo presente, menores são as chances de nos depararmos com documentos escritos produzidos por indígenas. Um e outro desafio, no entanto, conformam o rol de operações que os historiadores realizam, pois demandam o domínio dos instrumentos do ofício para trazer o indígena à cena histórica e fazê- “ ”
Reconhecer o protagonismo indígena, porém, desafia os historiadores desde uma outra dimensão de seu trabalho. Não se trata, apenas, de arrolar eventos nos quais os povos indígenas estiveram envolvidos, mas de assumir uma outra perspectiva nas abordagens. Tratar de protagonismo indígena requer assumir o índio como agente histórico pleno, demarcado por interesses, agendas e propósitos próprios. Exige do historiador que atente para as perspectivas indígenas, para suas trajetórias, para suas motivações. Abordar o protagonismo indígena significa considerar como relevantes as motivações e as ações indígenas, concebendo-as como resultado e resultante de escolhas, avaliações, contextos e situações que lhes são próprias, reconhecendo e incorporando a perspectiva indígena. Isso não se limita, que fique claro, ao uso de documentos nos quais as falas indígenas estejam presentes, mas no redimensionamento das abordagens, especialmente no abandono de uma postura que assume, de forma unívoca, a Europa e os processos que lá se constituíram como as matrizes da História do Brasil.
Este último movimento se mostra fundamental para a escrita da história indígena. Além disso, vem impactando a conformação do saber histórico escolar, segundo encaminham as transformações ocorridas no conteúdo curricular, estabelecidas pela alteração do artigo 26º da Lei de Diretrizes e Base da Educação. A assunção de que a História do Brasil compreende a História da África, a Cultura A frobrasileira e a História Indígena redimensiona a memória construída acerca da formação do país e da nação. Decorrente das demandas da sociedade civil, a inclusão de tais temáticas representa não apenas uma ampliação dos temas relativos à História do Brasil, mas o reconhecimento de que vastos segmentos da sociedade brasileira não se viam representados, de fato e de direito, na História Ensinada, conformando uma memória excludente acerca da formação do país e da sociedade.
Nossa pesquisa pretendeu verificar de que forma o saber histórico escolar, por meio da literatura didática, enfrenta o desafio colocado pela sociedade civil através da legislação e das políticas públicas. [...] Nossos resultados comprovaram que, mesmo após a exigência legal de presença da história e cultura indígena como constitutiva da história do Brasil, a narrativa presente na maioria dos livros didáticos não estabelece os indígenas como protagonistas e permanece reiterando certa memória histórica sobre a origem da nação. Memória pautada na correlação desigual entre atores, em que os portugueses são protagonistas de processos que se desenrolaram ao longo de nossa história e os indígenas são descritos como coadjuvantes exóticos, passivos e atemporais dessas ações. Percebe-se que a pretensão de substituição de uma memória da tradição por uma memória reivindicada pelos direitos recém-adquiridos precisa ir além da contribuição dos dispositivos legais e da produção historiográfica específica sobre a história indígena, reestruturando internamente a narrativa escolar sobre os personagens que construíram a história nacional em sua relação com a história mundial, de modo a propiciar a constituição de identidades contemporâneas que reconheçam a possibilidade de sua própria soberania, e não apenas a subjugação ao outro.
Excertos adaptados de COELHO, Mauro Cezar; ROCHA, Helenice Aparecida Bastos.
Paradoxos do protagonismo indígena na escrita escolar da História do
Brasil. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 10, n. 25, p. 464 - 488, jul./set. 2018
UPE 2023 - QUESTÃO 02
Analisando os modos como o Texto 6 se organiza e seu funcionamento social, assinale a alternativa CORRETA.
a) Por meio da utilização predominante de sequências narrativas, os autores conseguem imprimir ao Texto 6 um registro bastante informal, responsável por amenizar a seriedade do tema selecionado e ratificar a importância desse tema para a sociedade brasileira atual.
b) A principal reflexão que o texto suscita nos leitores – se os indígenas merecem ou não certo protagonismo no complexo processo de colonização do nosso país – é demasiadamente subjetiva e, por isso mesmo, não consegue ser claramente respondida pelos autores.
c) A opção por um tema relevante para a reflexão sobre a nossa história, aliada a uma abordagem mais formal e a uma argumentação consistente, com explicitação de um ponto de vista, são marcas que ajudam o leitor a reconhecer o Texto 6 como próprio do espaço acadêmico.
d) No que se refere à tipologia textual, o Texto 6 é majoritariamente descritivo; quanto à seleção temática, ele trata essencialmente da história indígena e, por isso, tem como público-alvo privilegiado leitores que defendem a causa indígena e que lutam pelos direitos desses povos.
e) Como circula preferencialmente na esfera jornalística, o propósito principal do Texto 6 é o de apresentar aos leitores, de forma sintetizada e objetiva, informações inéditas e relevantes sobre acontecimentos reais do cotidiano, a fim de auxiliar o leitor a refletir sobre a realidade.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
c) A opção por um tema relevante para a reflexão sobre a nossa história, aliada a uma abordagem mais formal e a uma argumentação consistente, com explicitação de um ponto de vista, são marcas que ajudam o leitor a reconhecer o Texto 6 como próprio do espaço acadêmico.
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