As pessoas que defendem o pastoral e a volta ao primitivo nunca se lembram, nas suas rapsódias à vida rústica
Leia a crônica “Fobias”, de Luis Fernando Verissimo, para responder às questões de 02 a 06.
As pessoas que defendem o pastoral e a volta ao primitivo nunca se lembram, nas suas rapsódias à vida rústica, dos insetos. Sempre que ouço alguém descrever, extasiado, as delícias de um acampamento — ah, dormir no chão, fazer fogo com gravetos e ir ao banheiro atrás do arbusto — me espanto um pouco mais com a variedade humana. Somos todos da mesma espécie, mas o que encanta uns horroriza outros. Sou dos horrorizados com a privação deliberada. Muitas gerações contribuíram com seu sacrifício e seu engenho para que eu não precisasse fazer mais nada atrás do arbusto. Me sentiria um ingrato fazendo. E a verdade é que, mesmo para quem não tem os meus preconceitos, as delícias do primitivo nunca são exatamente como as descrevem. Aquela legendária casa à beira de uma praia escondida onde a civilização ainda não chegou, ou chegou mas foi corrida pelo vento, e onde tudo é bom e puro, não existe. E se existe, nunca é bem assim.
— Um paraíso! Não há nem um armazém por perto.
Quer dizer, não há acesso à aspirina, fósforos ou qualquer tipo de leitura salvo, talvez, metade de uma revista “Cigarra” de 1948, deixada pelos últimos ocupantes da casa quando foram carregados pelos mosquitos.
— A gente dorme ouvindo o barulho do mar…
E de animais terrestres e anfíbios tentando entrar na casa para morder o seu pé. E, se morder, você morre. O antibiótico mais próximo fica a 100 quilômetros e está com a data vencida.
Não. Fico na cidade. A máxima concessão que faço à vida natural, no verão, são as bermudas. E, assim mesmo, longas. Muito curtas e já é um começo de volta à selva.
(Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992.)
FMJ 2024 - QUESTÃO 02
Em seu texto, o cronista recorre a citações com a intenção de
(A) endossá-las, favorecendo assim suas críticas à vida urbana.
(B) endossá-las, embasando assim sua defesa da vida urbana.
(C) desconstruí-las, embasando assim seus argumentos desfavoráveis à vida urbana.
(D) ironizá-las, reforçando assim sua posição contrária à vida urbana.
(E) ironizá-las, reforçando assim sua argumentação favorável à vida urbana.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
(E) ironizá-las, reforçando assim sua argumentação favorável à vida urbana.
RESOLUÇÃO:
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PRÓXIMA QUESTÃO:
- Ao ironizar a vida rústica, o cronista afasta-se de um tópico explorado reiteradamente pela poesia
QUESTÃO DISPONÍVEL EM: