O Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa define “onomatopeia” como “formação de uma palavra a partir
Leia o conto “Diálogo das notas”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder às questões de 06 a 10.
A nota de cinco mil cruzeiros estava preocupada. Anunciaram para breve a sua entrada em circulação, e já passavam muitos sóis sem que a retirassem do almoxarifado. No almoxarifado, chega-lhe o zum-zum de que continuamente as coisas sobem de preço e as notas baixam de valor. Embora os algarismos continuem os mesmos, cada dia significam uma realidade menor. Quando chegar minha vez de andar por aí — receia a nota de cinco mil — quanto valerão meus cinco mil?
Ao ser desenhada, sentira-se toda garbosa, cheia de minhocas na cabeça. Iria suplantar as coleguinhas, dando a vera ideia de grandeza. Mas até agora nada, e a nota inquieta-se:
— Quando vejo o cruzeiro metálico passar do tamanho de medalha de chocolate ao de botão de manga de camisa (e amanhã ele chegará talvez a semente de tangerina), sinto que meu futuro não será nada fagueiro. Vão-me reduzir às proporções de ficha de ônibus, feita de papel, e servirei para pagar a passagem de um coletivo circular. No máximo.
Estava nessa tristeza quando lhe apareceu, ainda em forma de neblina futura, o projeto da nota de cinco milhões, com efígie de cabeça para baixo, e sussurrou-lhe:
— Maninha, depois de mim virá a cédula de cinco trilhões, e assim sucessivamente, pois infinito é o número dos números. Até que um dia o homem se cansará de escrever no papel grandezas que são insignificâncias, e passará a escrever insignificâncias que valham grandezas. Já pressinto no horizonte maravilhosa nota zero, que nos resumirá a todas e alcançará o máximo valor metafísico.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis, 2012.)
FAMEMA 2024 - QUESTÃO 09
O Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa define “onomatopeia” como “formação de uma palavra a partir da reprodução aproximada, com os recursos de que a língua dispõe, de um som natural a ela associado”. Ocorre onomatopeia no seguinte trecho:
(A) “Quando vejo o cruzeiro metálico passar do tamanho de medalha de chocolate ao de botão de manga de camisa (e amanhã ele chegará talvez a semente de tangerina), sinto que meu futuro não será nada fagueiro.” (3º parágrafo)
(B) “No almoxarifado, chega-lhe o zum-zum de que continuamente as coisas sobem de preço e as notas baixam devalor.” (1º parágrafo)
(C) “Vão-me reduzir às proporções de ficha de ônibus, feita de papel, e servirei para pagar a passagem de um coletivo circular.” (3º parágrafo)
(D) “Até que um dia o homem se cansará de escrever no papel grandezas que são insignificâncias, e passará a escrever insignificâncias que valham grandezas.” (5º parágrafo)
(E) “Já pressinto no horizonte maravilhosa nota zero, que nos resumirá a todas e alcançará o máximo valor metafísico.” (5º parágrafo)
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
(B) “No almoxarifado, chega-lhe o zum-zum de que continuamente as coisas sobem de preço e as notas baixam devalor.” (1º parágrafo)
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