Fiquei martelando essa frase na cabeça por dias. Até que entendi que, para algumas pessoas, escrita é técnica
Leia o texto abaixo e responda às questões de 01 e 02.
VOCÊ ESTÁ CONVERSANDO?
Não lembro o nome dela, mas da frase que me disse ao final de oito horas seguidas de curso: “Adorei tudo o que você disse. É muito inspirador, só que não serve para mim. Eu quero escrever um livro. E acho que o que você ensinou não serve para um livro.”
Fiquei martelando essa frase na cabeça por dias. Até que entendi que, para algumas pessoas, escrita é técnica, e só. A questão é que, para mim, existe um lugar dentro de cada um onde a escrita nasce. Os cursos, diversos deles, ensinam técnica, modos de produzir textos, mas não nos conduzem aos caminhos que as palavras percorrem dentro de nós antes de chegar ao mundo. Ok, técnica a gente aprende. E se você dominá-la, vai conseguir escrever um belo texto, produzir um livro interessante. Só que o risco desse material ser “só
mais um” é enorme. Então, algo essencial a ser dito já nas primeiras páginas deste livro é que ele não é técnico, não é um manual repleto de regras de como fazer isso ou aquilo. Ele é sobre onde a escrita começa a ser germinada e os caminhos que ela percorre até sair de você e encontrar o outro. Estranho falar assim, não é? Mas é isso mesmo que acontece. A escrita, seja de que natureza for, nasce primeiro dentro da gente, percorre nossas caixas internas, nossos medos, desejos, anseios, e depois é que ganha mundo – vou falar mais um pouquinho sobre isso adiante. E como essa escrita está carregada de alma, vai longe, encontra o outro, entra dentro das caixinhas que também estão fechadas dentro dele e o toca, marca, afeta. É por isso que chamei essa maneira de escrever de Escrita Afetuosa, aquela que marca, toca, afeta, conversa verdadeiramente com o outro. Para mim, essa é basicamente a diferença entre você produzir um texto, um conteúdo, e ele ser lembrado por um, dois, cinco, dez anos depois de escrito, e outro que é descartado, esquecido minutos depois.
Minha experiência mais profunda em relação a isso começou em 2011, quando assumi a coordenação da revista Vida Simples, que naquela época era feita dentro da editora Abril. Eu nunca havia trabalhado em uma publicação em que as pessoas mencionassem tanto a frase “Parece que você está conversando comigo”. Vida Simples era tratada como “a melhor amiga”, e os textos eram quase oráculos para alguns. Lembro a mensagem que recebi de um rapaz que estava vivendo um processo forte de depressão e de ausência de sentido na vida, e que encontrou na revista um caminho ou um motivo para seguir em frente com mais equilíbrio. Ou da mulher que me escreveu para contar o quanto a revista a ajudou a lidar com a morte da filha. Depois de anos trabalhando com texto e edição (me formei em jornalismo em 1995), era a primeira vez que recebia mensagens de pessoas tão apaixonadas por uma publicação, que falavam em transformação da vida. A revista, percebi, era uma voz. Os textos, um amigo. E comecei a questionar qual seria a diferença entre o texto que marca e aquele que é descartado. Quanto mais mergulhei nos processos, percebi que isso tinha relação com o envolvimento de quem escrevia – e que essa relação entre autor e texto acontecia de muitas maneiras. Envolvimento não quer dizer textos escritos em primeira pessoa apenas. Aliás, adoro textos em que o autor sabe se colocar na medida, nem de mais nem de menos. Envolvimento quer dizer que o texto está carregado da alma de quem escreve. Alma. Mais: quanto mais alma existe em um texto, mais ele encontra o outro. E, claro, não estamos acostumados com isso. Sempre achamos que devemos manter uma postura segura de distanciamento, mas a ausência de envolvimento é sempre perceptível no texto, seja ele de que natureza for.
(HOLANDA, Ana. Como se encontrar na escrita: o caminho para
despertar a escrita afetuosa em você. Rio de Janeiro: Bicicleta Amarela/Rocco, 2018).
UNIRV 2021 - QUESTÃO 02
Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as alternativas de acordo com o texto:
a) ( ) A autora menciona experiências de sua vivência profissional para destacar sua profunda experiência com produção de textos.
b) ( ) Para a autora, o texto que emociona o leitor está carregado da “alma” de quem escreve; esse tipo de texto é resultado do envolvimento do autor com aquilo que escreve.
c) ( ) As mensagens enviadas pelos leitores da revista citada fizeram com que a autora percebesse como alguns textos afetavam intensamente algumas pessoas, coisa que, até então, ela não havia vivenciado em sua carreira como jornalista.
d) ( ) No trecho “não estamos acostumados com isso. Sempre achamos que devemos manter uma postura segura de distanciamento”, a autora se refere à postura dos leitores em relação aos textos jornalísticos.
QUESTÃO ANTERIOR:
GABARITO:
A) F
B) V
C) V
D) F
RESOLUÇÃO:
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PRÓXIMA QUESTÃO:
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