O Brasil não tem sorte com seus centenários. O primeiro, em 1922, teve de conviver com os restos da devastação
Texto para as questões de 17 a 20.
200 anos de Independência do Brasil:
pouco a celebrar, muito a questionar
O Brasil não tem sorte com seus centenários. O primeiro, em 1922, teve de conviver com os restos da devastação causada pela gripe espanhola, chegada ao País em 1918. Calculam-se em cerca de 35 mil as mortes causadas no País, concentradas no Rio de Janeiro e São Paulo. O ano de 1922 foi ainda marcado pela primeira revolta tenentista e pela decretação do estado de sítio pelo presidente Epitácio Pessoa, destinada a garantir a posse do presidente eleito, Artur Bernardes. Nas celebrações, destacou-se a Exposição Internacional, de que participaram 14 países.
O segundo centenário virá na cauda de outra pandemia, a da covid-19, chegada ao País em 2020 e que já matou cerca de 620 mil brasileiros.
As mudanças nesses 200 anos foram enormes. Passamos de um país de cerca de 5 milhões de habitantes, dos quais um milhão de escravos e 800 mil indígenas, para outro de 214 milhões; de um país com cerca de 10% de população urbana em 1822 para outro de 85% hoje; de um país de economia totalmente agrícola em 1822 para outro com larga participação industrial hoje; de uma população formada exclusivamente por indígenas, africanos e lusos para outra muito mais diversificada pela entrada de italianos, espanhóis, alemães, sírios, libaneses, japoneses; de uma população concentrada na região costeira para outra que cobre todo o território nacional. No entanto, todos os analistas que se encarregaram do tema de nossa trajetória, como Sérgio Buarque de Holanda, Oliveira Viana, Nestor Duarte, Raimundo Faoro, Gilberto Freyre, Roberto DaMatta, entre outros, reconhecem que há mais continuidades do que rupturas. Somos um país sem revoluções. O que chamamos de revolução, como a de 1930, não passou de ajustes entre grupos dirigentes. O povo só entrou no sistema político a partir da segunda metade do século 20, tendo sido logo contido por uma ditadura.
Quando falo do drama social que desautoriza celebrações me refiro, naturalmente, ao problema da desigualdade, que é de todos conhecido, mas sobre o qual, a meu ver, mais se fala do que se faz. Lembro alguns dados de amplo conhecimento. Somos o oitavo país mais desigual do mundo e ocupamos a 84.ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano. Em 2010, o 1% mais rico da população detinha 44% da riqueza nacional. Ao mesmo tempo, há três décadas, estamos crescendo a taxas medíocres, incapazes de gerar os empregos necessários e viabilizar políticas sociais mais substanciais.
A hipótese pode soar apocalíptica, mas talvez estejamos a brincar, ou a brigar, na praia, alheios ao tsunami que se delineia no horizonte.
José Murilo de Carvalho, https://www.estadao.com.br, 01/01/2022. Adaptado.
FGV 2023 - QUESTÃO 17
Considere as afirmações sobre os seguintes trechos do texto:
I “O segundo centenário virá na cauda de outra pandemia” (2º. parágrafo): Refere-se a um ponto em comum entre os dois centenários da Independência do Brasil.
II “uma população concentrada na região costeira para outra que cobre todo o território nacional” (3º. parágrafo): Destaca o processo de interiorização do País como causa do aumento de sua população rural.
III “Somos um país sem revoluções” (3º. parágrafo): Expressa uma especificação da frase anterior (“Os analistas reconhecem que há mais continuidades do que rupturas”).
Está correto o que se afirma apenas em:
A) III.
B) I e II.
C) I.
D) II.
E) I e III.
QUESTÃO ANTERIOR:
- Contribui decisivamente para o efeito de humor da tirinha o seguinte recurso de construção textual
GABARITO:
E) I e III.
RESOLUÇÃO:
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PRÓXIMA QUESTÃO:
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