Questões de Português UPE 2021 com Gabarito

Questões de Português UPE 2021 com Gabarito

Questões de Português UPE 2021 com Gabarito

Confira a prova completa:

Os Textos 1, 2, 3 e 4 servem de base às Questões 01 e 02.

Texto 1

Anjo — Esta é; que demandais?
Fildalgo — Que me deixeis embarcar;
sou fidalgo de solar, 
é bem que me recolhais.

Anjo — Não se embarca tirania 
neste batel divinal.

Fildalgo — Não sei por que haveis por mal 
que entre a minha senhoria.

Anjo — Para vossa fantasia 
mui pequena é esta barca.

Fildalgo — Para senhor de tal marca 
Não há aqui mais cortesia?
VICENTE, Gil. ―Auto da Barca do Inferno. In:______. Autos e 
farsas de Gil Vicente. São Paulo: Melhoramentos, 2012. Excertos.

Texto 2

Canto I

As armas e os Barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. São Paulo: Martin Claret, 2001. Excertos.

Texto 3

Rompe o poeta com a primeira impaciência 
querendo declarar-se e temendo perder por 
ousado

Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
Do verde pé, da rama fluorescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?

Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997.

Texto 4

Lira XIX – 1ª parte

Enquanto pasta alegre o manso gado, 
Minha bela Marília, nos sentemos 
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos 
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia Natureza.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: DCD, 2010. Excertos.

UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 01
Diversos estudiosos buscam classificar as obras literárias em gêneros. A classificação aristotélica tem sido utilizada para traçar as características dos gêneros literários (épico, lírico, dramático).

Conforme essa classificação, os textos literários são organizados em três gêneros: épico, lírico e dramático. Identifique o gênero literário dos Textos 1, 2, 3 e 4, numerando-os de acordo com a seguinte correspondência: 

(1) gênero épico; 
(2) gênero lírico; 
(3) gênero dramático. 

A sequência que identifica correta e respectivamente o gênero literário dos Textos 1, 2, 3 e 4 é:

a) 1 – 2 – 2 – 3. 
b) 3 – 2 – 2 – 2.
c) 3 – 1 – 3 – 2.
d) 1 – 2 – 3 – 1.
e) 3 – 1 – 2 – 2.


UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 02
Não apenas os textos literários se materializam em gêneros. Na verdade, hoje há um consenso de que qualquer texto se organiza em um gênero. Outro consenso é o de que o que define um gênero textual é menos o conjunto de suas características formais, e mais a sua função social. Isso porque todo texto é escrito (ou falado) com um propósito comunicativo.

Considerando esse propósito, é CORRETO afirmar que 

a) no Texto 1, o autor pretende representar nosso comportamento em um momento de introspecção, no qual travamos intenso diálogo com nosso ‗eu interior‘. 

b) no Texto 2, em que o eu lírico se dirige ao Rei, o que o autor pretende é tecer comentários críticos acerca da situação sociopolítica de seu país. 

c) o Texto 3 deve ser compreendido, de fato, como uma declaração de amor; mas um amor conflituoso, contra o qual o eu lírico está em luta. 

d) com o Texto 4, o autor tenciona retratar o jogo amoroso da conquista; por isso, nele, o eu lírico exalta a beleza da sua amada, visando conseguir seu amor. 

e) o Texto 2 foi escrito para expressar a intensa alegria do autor diante da mais gloriosa conquista portuguesa: a de ter descoberto uma nova terra – o Brasil.


Os Textos 5, 6, 7 e 8 servem de base às Questões 03 e 04.

Texto 5

"A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral são bem-feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto. [...] Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que verdadeiramente de leve, de boa grandeza, e, todavia, raspado por cima das orelhas. [....] E estavam já mais mansos e seguros entre nós do que nós estávamos entre eles. [...] Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. [...] Ora veja, Vossa Alteza, quem em tal inocência vive, se se converterá, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
CAMINHA, Pero Vaz de. ―A carta. In: CASTRO, Silvio. A Carta de Pero
Vaz de Caminha. Porto Alegre; L&PM, 2015. Excertos.

Texto 6

DOS TUPINIQUINS

"Do seu nome direi que são tupiniquins; da sua cor, que são pardos à maneira dos mouros; de seus braços, que são rijos, de modo que um deles pode carregar com folga três dos nossos; dos seus pelos nada conto porque não os têm, e dos seus cabelos direi que os cortam em forma de meia esfera, sendo muito parecidos com os frades".
TORERO, José Roberto. Terra Papagalli. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. Excertos.

Texto 7

Bom, adeus ao sonho da casa própria

Texto 8

UPE 2021 - Texto 8

UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 03
O Quinhentismo marca a introdução da cultura europeia no Brasil. Nesse período, podemos encontrar uma série de textos sobre a visão dos colonizadores a respeito dos índios. Com base na leitura dos Textos 5, 6, 7 e 8, e reconhecendo o contexto histórico-social e as características do Quinhentismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA

a) No Brasil, o Quinhentismo é o período marcado pelos primeiros registros escritos, com foco na documentação do processo colonizador. Nesse período, a literatura produzida revela complexidade estético-literária, com textos rebuscados e de grande valor artístico-literário, como podemos notar no Texto 5

b) As primeiras manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro podem ser divididas em dois grupos: a literatura informativa e a literatura de catequese. O Texto 5 é exemplo da literatura informativa e apresenta a visão do europeu colonizador sobre o nativo. 

c) No Quinhentismo brasileiro, as manifestações literárias são informações que viajantes e missionários europeus registraram sobre os índios, os negros e a natureza. O Texto 5, como exemplo de literatura informativa, apresenta a visão do colonizador sobre a impossibilidade de converter o índio ao cristianismo. 

d) Os Textos 5 e 6 revelam uma visão realista do europeu sobre os nativos e destacam a valorização das crenças e da cultura dos índios na consolidação da identidade nacional brasileira. 

e) O cartum (Texto 7) e a tela de Debret (Texto 8) dialogam na representação dos índios, em conformidade com as visões apresentadas nos Textos 5 e 6, com destaque para a valorização da cultura dos nativos.


UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 04
Podemos identificar, nos textos quinhentistas, alguns recursos linguísticos relacionados ao contexto de produção desses textos. A respeito desses recursos, assinale a alternativa CORRETA

a) O trecho "[...] se nós entendêssemos a sua fala [...]" (Texto 5) corresponde a: "[...] se nós, nativos, entendêssemos a fala do Rei [...]".

b) Ao empregar o adjetivo 'bom' para qualificar 'narizes' ("de bons rostos e bons narizes"), o autor do Texto 5 pretendeu dizer que os indígenas tinham 'narizes muito grandes'.

c) Segundo o autor do Texto 5, os indígenas "não fazem o menor caso de [...] mostrar suas vergonhas"; ou seja, eles não se importam de apresentar suas muitas esposas.

d) No Texto 6, o autor usou a estratégia de introduzir um segmento negativo ("dos seus pelos nada conto porque não os têm") para descrever os índios como 'povo naturalmente depilado'. 

e) A opção de trazer para o Texto 7 a expressão "sonho da casa própria" confere a esse texto maior nível de formalidade.


Os Textos 9, 10 e 11 servem de base à Questão 05.

Texto 9

Aleijadinho. ―O Salvador Carregando o Madeiro” (1796-1799)
Aleijadinho. ―O Salvador Carregando o Madeiro” (1796-1799).
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br. Acesso em: 05/09/2020.

Texto 10

Caravaggio (1571-1610). “A inspiração de São Mateus” (1602).
Caravaggio (1571-1610). “A inspiração de São Mateus” (1602).
Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br. Acesso em: 05/09/2020.

Texto 11
 
Ao braço do Menino Jesus de Nossa 
Senhora das Maravilhas, a quem infiéis 
despedaçaram.

O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo, 
Assiste cada parte em sua parte. 

Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço que lhe acharam, sendo parte, 
Nos diz as partes todas deste todo. 
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997.

UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 05
O Barroco manifestou-se em várias expressões artísticas (arquitetura, pintura, escultura, música, literatura, teatro), por meio de um estilo próprio, com características estéticas marcantes.

Analise os Textos 9, 10 e 11 e, considerando as características do Barroco em diferentes manifestações artísticas (escultura, pintura e literatura), assinale a alternativa CORRETA.

a) O Texto 9 revela a arte barroca de Aleijadinho, inspirada na temática religiosa e com elementos oriundos da mitologia greco-romana. Na escultura de Aleijadinho, os traços do Barroco são percebidos na extravagância dos detalhes e nas expressões caricaturais das personagens.

b) Na pintura, a estética barroca apresenta-se por meio de contrastes de cores, valorização das luzes e sombras, equilíbrio entre as formas, além da preferência por temas pagãos do Neoclassicismo, como podemos notar na tela de Caravaggio (Texto 10).

c) O Texto 11 é um exemplo do Cultismo, característica do Barroco. No soneto de Gregório de Matos, o Cultismo está presente nos jogos de palavras (o "todo" e a "parte") e nas inversões sintáticas.

d) O soneto de Gregório de Matos (Texto 11), construído sob a ótica da estética barroca, é exemplo clássico da poesia lírico-amorosa do poeta, que também é conhecido como "O Boca do Inferno", pelo sarcasmo nos textos dramáticos produzidos.

e) A temática religiosa é apresentada nos Textos 9, 10 e 11, com foco na teatralidade, na representação fiel das personagens e na harmonia entre cores e linguagens, características marcantes da estética barroca.


Texto 12 serve de base às Questões 06, 07 e 08.

Texto 12

New Barroco: tudo sobre a moda

Se nos últimos anos o minimalismo reinou pedindo looks mais cleans, contudo, o inverno de 2020 promete trazer uma trend que sugere exatamente o contrário: looks ricos, exagerados e elaborados farão parte dessa estação. 

Além disso, o barroco será uma das grandes influências da moda para a estação mais fria do ano. O espírito barroco é carregado de informações, dramaticidade e conflitos, assim como abundância e vitalidade, o que traduz perfeitamente a atmosfera da contemporaneidade em todas as suas contradições. 

Na moda, toda essa desordem também aparece refletida na sobrecarga de informações, por exemplo: texturas, mix de estampas, hibridismo, exagero nas proporções, sobreposições, peles, pelos, transparência, brilho e tudo mais, de preferência no mesmo look!

New Barroco: tudo sobre a moda
Disponível em: https://coracanela.com.br/.
Acesso em 13/10/20. Adaptado.

UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 06
De acordo com o Texto 12, na moda, o "espírito barroco" se reflete

1) na sobriedade das cores. 

2) no excesso de detalhes. 

3) na mistura de informações. 

4) na leveza dos tecidos.

Estão CORRETAS

a) 1 e 3, apenas.
b) 1 e 4, apenas.
c) 2 e 3, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.


UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 07
Considerando a organização do Texto 12, assinale a alternativa CORRETA.

a) O texto é iniciado com uma comparação entre uma tendência de moda que prevaleceu nos anos anteriores e a "nova tendência" do inverno de 2020.

b) Embora o termo "barroco" se apresente no texto desde o título, a relação entre essa manifestação artística e a moda só é descrita no parágrafo conclusivo.

c) O segundo parágrafo tem a função de repetir, de outra maneira, as informações do primeiro, de modo que, de fato, pouco contribui para a progressão textual.

d) O terceiro parágrafo, conclusivo, cumpre a função de sintetizar as informações trazidas nos parágrafos anteriores e apontar para a solução do problema levantado no texto.

e) A pouca inter-relação entre os parágrafos que compõem o texto resulta do fato de que cada um tem um enfoque temático diferente do outro.


UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 08
Todo texto revela uma multiplicidade de relações semânticas, sendo algumas explicitadas por conectivos, outras não. Acerca dessas relações e dos conectivos que as explicitam no Texto 12, assinale a alternativa CORRETA

a) O texto é introduzido por um segmento de valor consecutivo: "Se nos últimos anos o minimalismo reinou pedindo looks mais cleans [...]".

b) No trecho: "Se nos últimos anos o minimalismo reinou pedindo looks mais cleans, contudo, o inverno de 2020 promete [...]", o conectivo destacado explicita a relação de causa e consequência nele presente.

c) A expressão que introduz o segundo parágrafo ("Além disso") sinaliza para o leitor que as informações a serem fornecidas no texto se opõem, de alguma maneira, às informações dadas.

d) O conectivo destacado no trecho "O espírito barroco é carregado de informações, dramaticidade e conflitos, assim como abundância e vitalidade" foi empregado para possibilitar o acréscimo de informações no trecho.

e) No trecho: "Na moda, toda essa desordem também aparece refletida na sobrecarga de informações", o leitor deve reconhecer uma relação semântica de comparação.


Os Textos 13, 14, 15 e 16 servem de base à Questão 09.

Texto 13

Cartaz do filme “Caramuru: a invenção do Brasil”
Cartaz do filme “Caramuru: a invenção do Brasil”
(2001) 1h 28min / Comédia Direção: Guel Arraes
Elenco: Selton Mello, Camila Pitanga,
Deborah Secco Disponível em:
http://www.cinemabrasileiro.net Acesso em: 06/09/2020.

Texto 14

ZUCARELLI, Francesco. "Uma cena pastoral" (1750).
ZUCARELLI, Francesco. "Uma cena pastoral" (1750).
Disponível em: http://vitrineliteraria01.blogspot.com.
Acesso em: 07/09/2020.

Texto 15

LIRA I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
[...]
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. 
São Paulo: DCL, 2010. Excertos.

Texto 16

CARTA 3ª

Em que se contam as injustiças, e violências, que Fanfarrão executou por causa de uma Cadeia, a que deu princípio.

[...]
Agora, cuidarás, prezado Amigo,
Que as chaves das cadeias já não abrem,
Comidas da ferrugem? Que as algemas
Como trastes inúteis, se furtaram?
Que o torpe executor das graves penas
Liberdade ganhou? Que já não temos
Descalços guardiães, que à fonte levem,
Metidos nas correntes os forçados?
Assim, prezado Amigo, assim devia
Em Chile acontecer, se o nosso Chefe
Tivesse em governar algum sistema.
Mas, meu bom Doroteu, os homens néscios
Às folhas dos Olmeiros se comparam;
São como o leve fumo, que se move
Para partes diversas, mal os ventos
Começam a apontar, de partes várias.
[...]
GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas Chilenas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. Excertos. 

UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 09
Considerando a leitura dos Textos 13, 14, 15 e 16 e as características do Arcadismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA.

a) O filme "Caramuru – A Invenção do Brasil" é uma adaptação fiel e caricatural do poema árcade lírico-amoroso de Santa Rita Durão, "Caramuru", que conta a história do fidalgo português Diogo Álvares, o Caramuru, que se transformou em líder dos indígenas da tribo tupinambá.

b) A tela de Francesco Zucarelli (Texto 14) mostra um cenário bucólico, com pastores, ovelhas e musas inspiradoras, por meio de uma representação das personagens pautada na estética naturalista do Classicismo europeu, característica marcante do Arcadismo brasileiro.

c) O Texto 14 dialoga com o Texto 15 na representação do locus amoenus (lugar ameno/agradável) como ambiente bucólico e idealizado pelos poetas árcades. As antíteses e paradoxos do Texto 15, traços característicos da poesia árcade, revelam o conflito do sujeito lírico em relação ao amor platônico. 

d) O Texto 16 é um exemplo da poesia satírica do Arcadismo brasileiro. Critilo é o emissor das cartas e Doroteu, o receptor. Por meio de linguagem satírica e irônica, a obra critica o governador da Capitania de Minas Gerais, referenciado como o "Fanfarrão".

e) Os Textos 15 e 16 são exemplos representativos da poesia épica do Arcadismo brasileiro, identificando-se, no Texto 15, o bucolismo e, no Texto 16, o "carpe diem".


Texto 17 serve de base para as Questões 10, 11 e 12.

Texto 17

O Texto 17 serve de base para as Questões 10, 11 e 12

UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 10
Para compreender bem um texto, dentre outras habilidades, devemos apreender qual a função desse texto, na sociedade em que ele circula.

Assim, para compreendermos bem o Texto 17, é importante perceber que ele tem, prioritariamente, uma função 

a) informativa; pretende noticiar fatos que o leitor desconhece. 

b) publicitária; quer divulgar e comercializar um produto: o livro. 

c) doutrinária; intenta convencer o leitor a seguir "uma verdade".

d) lúdica; objetiva proporcionar diversão e relaxamento ao leitor. 

e) formativa; almeja contribuir para a formação de leitores.


UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 11
Acerca de elementos não verbais do Texto 17, analise as afirmações abaixo.

1) As nuvens na parte superior do texto cumprem a função de reforçar a ideia, geralmente consensual, de que, pela leitura, "nos elevamos às alturas", ou seja, a leitura nos permite voar.

2) A sugestão dada no texto verbal, de o leitor ler livros clássicos, é representada nas imagens por livros grossos, pesados, como são todos os clássicos.

3) Toda a composição visual do texto, com imagens de livros empilhados, um garoto lendo sentado nas alturas e textos verbais curtinhos na lateral, confere harmonia ao texto como um todo e é mais um elemento pensado para atrair o potencial leitor.

4) A imagem dos livros empilhados com o jovem sentado sobre eles sugere que as obras impressas estão ultrapassadas e que a leitura por meio virtual é a "nova onda" que deve ser seguida. 

Estão CORRETAS:

a) 1 e 2, apenas.
b) 1 e 3, apenas.
c) 2 e 3, apenas.
d) 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.


UPE 2021 (1ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 12
Prevalece, na parte verbal do Texto 17, o emprego da norma culta da língua. Nesse contexto, é CORRETO afirmar que 

a) no trecho: "Canais de internet com resenhas e críticas estimulam novos títulos.", a forma verbal está no plural em concordância com os termos "resenhas" e "críticas".

b) atendendo aos propósitos do texto, o autor emprega o modo imperativo em "comece" e "procure", para dialogar diretamente com o leitor.

c) assim como em EXPERIÊNCIAS, está correta a grafia de EXTENDER; em DIVERSIDADE, está correta a grafia de CUMPLISIDADE.

d) no título, o ponto de interrogação é obrigatório em "Como criar gosto pelos livros?", e sua ausência fere os preceitos da norma culta da língua. 

e) o acento gráfico da palavra "páginas" é justificado pela mesma regra que recomenda o acento gráfico na palavra "fácil".


Texto 1 serve de base às Questões 01, 02, 03 e 04

Texto 1

13 DE MAIO
Foi quando eu era seminarista no interior de São Paulo. Era 13 de maio de 1966 e os meus colegas de seminário, quase todos descendentes de italianos ou alemães, resolveram homenagear o dia da abolição dos escravos com um almoço. Nós, os poucos negros ou pardos da turma, fomos "convidados" a sentar na mesa central do refeitório, decorada com as palavras "Navio Negreiro".

Quando vi aquilo me recusei e me sentei numa mesa lateral, com todos os outros colegas. Pois os organizadores daquilo me pegaram à força, me arrastaram e me fizeram sentar na marra junto aos outros negros, no que considerei uma ofensa gravíssima. Arrumei as malas para ir embora, mas fui convencido a ficar pelo padre do local.

Ele me recomendou que deixasse o ódio passar e que tomasse aquele episódio como bandeira de luta  para um mundo melhor. E, de fato, aquele episódio alterou radicalmente a direção da minha vida. Foi a partir de então que tirei a foto do meu pai, que era negro, do fundo da minha mala, e coloquei-a ao lado da fotografia da minha mãe, branca, com os meus objetos pessoais.
Frei David Raimundo dos Santos, 63 anos, frade, fundador da ONG Educafro.
Disponível em: www.educafro.org.br Acesso em: 15 set. 2020. Adaptado.

UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 01
Texto 1 é o relato, infelizmente comum na nossa realidade, de uma experiência de racismo. Com base nos elementos de sua organização narrativa e nas conclusões (inferências) autorizadas pelo texto, assinale a alternativa CORRETA

a) O trecho inicial, entre: "Foi quando eu era seminarista [...]" e "[...] homenagear o dia da abolição dos escravos com um almoço." apresenta o conflito que dá origem ao relato.

b) O narrador não participa da ação narrativa, mas conhece todos os fatos, ou seja, trata-se de um narrador onisciente.

c) O ponto mais tenso da narrativa, isto é, o clímax, situa-se entre "Arrumei as malas [...]" e "[...] para um mundo melhor.".

d) Há uma passagem de discurso direto no segmento destacado em: "[...] mas fui convencido a ficar pelo padre do local. Ele me recomendou que deixasse o ódio passar [...]".

e) O ato de o narrador expor a foto de seu pai negro ao lado da foto de sua mãe, que era branca, simboliza o início de sua luta contra o racismo, e por um mundo mais justo.


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 02
Quanto aos recursos lexicais, gramaticais e gráficos empregados no Texto 1 e seus efeitos nos sentidos, analise as afirmativas a seguir. 

1) As aspas em "convidados" revelam que o narrador ficou surpreso ao ser convidado para o evento do dia 13 de Maio. 

2) A designação "Navio Negreiro" para a mesa de refeição foi ofensiva ao narrador, porque simboliza a opressão e a violência que vitimam os negros, há séculos. 

3) Em: "Quando vi aquilo", o pronome (destacado) se refere ao trecho "mesa central do refeitório, decorada com as palavras "Navio Negreiro"; o uso de "aquilo", nesse caso, reforça que o narrador despreza a ação de seus colegas e discorda dela. 

4) O termo "bandeira de luta" sinaliza a ideia de "ir à forra", "passar por cima", isto é, destruir a supremacia branca.

Estão CORRETAS:

a) 1 e 2, apenas. 
b) 1, 2 e 3, apenas. 
c) 1, 3 e 4, apenas. 
d) 2 e 3, apenas. 
e) 3 e 4, apenas.


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 03
No trecho: "E, de fato, aquele episódio alterou radicalmente a direção da minha vida." (Texto 1), o termo destacado acrescenta ao trecho em questão um/uma: 

a) confirmação.
b) atenuação.
c) contraste.
d) dúvida.
e) ironia.


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 04
Em: "Foi a partir de então [...]" (Texto 1), o articulador destacado pode ser substituído, sem alterações significativas nos sentidos do texto, por: 

a) "depois que entrei pro seminário".

b) "após aquele triste acontecimento do dia 13 de maio de 1966".

c) "depois de ser convencido a ficar pelo padre do local".

d) "após o meu ódio ter passado".

e) "depois que tirei a foto do meu pai do fundo da mala".


Os Textos 2, 3, 4, 5 e 6 servem de base às Questões 05, 06 e 07.

Texto 2

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após, fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
[...]
ALVES, Castro. O Navio Negreiro. Excertos. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf
Acesso em: 12 set. 2020.

Texto 3

Baptiste Debret (1768-1848)

Texto 4

PAI CONTRA MÃE
Machado de Assis

A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. [...] Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. [...]
ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. Excertos. 
Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/
Acesso em: 12/09/2020.

Texto 5

Arte: Angelo Arede / Design Ativista

Texto 6

A onda de protestos após a morte de George Floyd por um policial de Mineápolis, nos Estados Unidos, fez a hashtag #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre) ganhar manifestações nas ruas e nas redes sociais. Famosos e anônimos têm usado o termo nos últimos dias, no online e no offline, como forma de apoio ao movimento antirracista e para cobrar das autoridades que resguardem vidas negras.


O Black Lives Matter, às vezes citado nos cartazes como BLM, é uma organização que nasceu em 2013 por três ativistas norte-americanas: Alicia Garza, da aliança nacional de trabalhadoras domésticas; Patrisse Cullors, da coalizão contra a violência policial em Los Angeles; e Opal Tometi, da aliança negra pela imigração justa. Hoje, é uma fundação global cuja missão é "erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras" pelo Estado e pela polícia.
Disponível em: 
https://www.uol.com.br/universa Acesso em: 12/09/2020.

UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 05
Em diálogo com as questões sociais, a literatura configura-se como um meio importante na representação de temas, como a escravidão e o racismo, por exemplo.

Na leitura da coletânea (Textos de 2 a 6), atente para: o contexto histórico-social e literário em que cada texto foi produzido; as relações temáticas entre os textos; e as características estilísticas da poesia de Castro Alves e da prosa de Machado de Assis.

Acerca dos textos que formam a coletânea, assinale a afirmativa CORRETA.

a) Entre os cinco textos da coletânea, há relações intertextuais implícitas do tipo paródia, já que todos os textos abordam o racismo estrutural no Brasil, desde o processo de escravidão do negro até os movimentos antirracistas, como o "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam").

b) O preconceito racial é um tema recorrente na literatura brasileira e está presente nos Textos 2 e 4, os quais abordam o racismo e a escravidão na poesia simbolista de Castro Alves e na prosa naturalista de Machado de Assis. 

c) Castro Alves ficou conhecido como o "poeta dos escravos" e sua produção poética é um exemplo da primeira geração da poesia do Romantismo no Brasil, com a representação dos negros na construção da identidade nacional do povo brasileiro.

d) "O Navio Negreiro" (Texto 2), exemplo da poesia condoreira de Castro Alves, mostra o sofrimento dos africanos, vítimas do tráfico de escravos nas viagens de navio da África para o Brasil, revelando a difícil situação dos negros, aprisionados no navio, famintos e açoitados pelos marinheiros.

e) Os Textos 2, 3 e 4 têm em comum a temática da escravidão no Brasil: o Texto 2 mostra a dança sensual e naturalista dos escravos no navio negreiro; a tela de Debret (Texto 3) retrata a crueldade dos castigos físicos no processo de escravidão; o Texto 4 revela a ironia romântica de Machado de Assis na representação dos instrumentos de tortura utilizados durante a escravidão. 


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 06
Os textos poéticos são os mais ricos em recursos expressivos. Em O Navio Negreiro (Texto 2), magnífico exemplo desse princípio, Castro Alves lança mão de inúmeros recursos expressivos para obter determinados efeitos estéticos e discursivos.

Acerca dos recursos expressivos empregados pelo poeta e dos efeitos pretendidos, analise as afirmativas a seguir. 

1) O eufemismo "sonho dantesco" é usado a fim de preparar o expectador, com serenidade e delicadeza, para uma cena que se mostrará demasiado impactante. 

2) Criando imagens fortes, como a hipérbole "(o tombadilho) em sangue a se banhar", o poeta procura provocar indignação e obter apoio e engajamento para a causa que defende. 

3) Ao usar termos que remetem a cores (avermelha o brilho, homens negros, bocas pretas), sons (tinir, estalar, estridente) e movimentos (dançar, arrastadas, doudas espirais), o poeta leva o ouvinte/leitor a perceber a cena descrita em todo o seu horror. 

4) Compondo cenas com homens e mulheres; mães, crianças e velhos, todos brutalizados, o poeta afeta os ouvintes/leitores nas suas características igualmente humanas e os convida a intervir na realidade social em que vivem. 

Estão CORRETAS

a) 1 e 2, apenas.
b) 1, 2 e 3, apenas.
c) 1, 3 e 4, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 07
Acerca das propriedades específicas de organização narrativa em O Navio Negreiro (Texto 2), assinale a afirmativa CORRETA.

a) O enunciado "(o tombadilho) Era um sonho dantesco..." caracteriza e sintetiza o cenário a ser descrito em seguida; já as reticências têm o efeito de criar certo suspense antes da apresentação dos fatos.

b) O poeta destaca a individualidade das personagens que representam os escravos ao empregar substantivos coletivos (legiões, multidão) e ao fazer referências no plural (homens negros, negras mulheres, magras crianças).

c) Nos versos: "Um de raiva delira, outro enlouquece,/ Outro, que de martírios embrutece,/ Cantando, geme e ri!", as orações curtas, com repetição dos sujeitos verbais (um/ outro), mostram personagens apáticos, numa ação narrativa lenta. 

d) Outras marcas próprias do texto narrativo presentes no texto são: marcação do espaço (tombadilho), marcação do tempo (ali), discurso indireto ("Vibrai rijo o chicote, marinheiros!/ Fazeios mais dançar!...").

e) Na última estrofe do Texto 2, há uma evidente harmonia entre o cenário descrito (o céu que se desdobra puro sobre o mar) e a ordem dada aos marinheiros ("vibrai rijo o chicote").


Os Textos 7, 8, 9 e 10 servem de base às Questões 08, 09 e 10.

Texto 7

XVII – DO TRAPÉZIO E OUTRAS COISAS

[...]
"... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil. [...]"
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Ática, 1997. p. 44. Excertos.

Texto 8

XXVII – VIRGÍLIA?

"Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois...? A mesma; era justamente a senhora que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, — devoção, ou talvez medo; creio que medo. [...]"
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Ática, 1997. p. 59. Excertos.

Texto 9

literalmente

Texto 10

"Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... 

[...]

E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... [...]"
ASSIS, Machado de. D. Casmurro. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 67; p. 232-233. Excertos.

UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 08
Com base na leitura dos Textos 7, 8, 9 e 10 e considerando as características da prosa de Machado de Assis, assinale a alternativa CORRETA

a) Machado de Assis destacou-se na prosa do Realismo brasileiro, com narrativas de cunho psicológico, caracterizadas por uma visão própria do Determinismo, corrente que destaca as personagens como representações coletivas em conflito com os padrões sociais vigentes. 

b) Os Textos 9 e 10 apresentam conexões dialógicas sobre a "traição amorosa", temática da obra "D. Casmurro". Neste romance, fica clara a ideia de que Capitu é uma mulher dissimulada e engana seu marido, Bentinho, tramando com José Dias, personagens representadas, de modo caricatural, na charge.

c) Virgília é descrita, no Texto 8, conforme os padrões do Realismo ("Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, - devoção, ou talvez medo; creio que medo"). O narrador elabora a crítica aos padrões estéticos do Romantismo ("isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas").

d) O Texto 7 mostra a visão do narrador onisciente sobre Marcela, personagem feminina que representava a elite da burguesia carioca e acompanhou toda a trajetória de Brás Cubas, da adolescência à morte.

e) A obra de Machado de Assis pode ser classificada em duas fases: romântica e realista/naturalista. As personagens femininas apresentadas nos Textos 7 e 8 são exemplos da fase realista/naturalista da prosa machadiana, ao passo que Capitu (Texto 10), com seus “olhos de cigana oblíqua e dissimulada", revela traços da fase romântica.


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 09
Ao longo do primeiro parágrafo do Texto 10, o tópico "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" é substituído por diferentes pronomes.

Assinale, entre as alternativas abaixo, a única cujo pronome (destacado) NÃO substitui o referido tópico. 

a) [...] a definição que José Dias dera deles [...].
b) [...] se nunca os vira [...]. 
c) A demora da contemplação creio que lhe deu [...] 
d) [...] um pretexto para mirá-los [...]. 
e) [...] enfiados neles [...].


UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 10
Analisando a aplicação de algumas regularidades sintáticas da norma padrão aos Textos 7, 8 e 10, é correto afirmar: 

a) Em: "o caso excedia as raias de um capricho juvenil" (Texto 7), o emprego da crase em "as raias" é facultativo, isto é, também estaria em conformidade com a norma-padrão: "o caso excedia às raias de um capricho juvenil".

b) No trecho: "a senhora que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias" (Texto 8), a opção por "assistir aos", em vez de "assistir os", conforme a norma-padrão, indica que o autor quer dizer: "A senhora que em 1869 devia presenciar os meus últimos dias".

c) O trecho "fecha os olhos às sardas e espinhas" (Texto 8) também estaria em conformidade com as regras de uso da crase em: "fecha os olhos à manchas e erupções".

d) O trecho: "Virgília era cheia de uns ímpetos misteriosos" (Texto 8) também atenderia às normas da regência nominal em: "Virgília era tomada com uns ímpetos misteriosos". 

e) O trecho: "e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos" (Texto 10) mantém o mesmo sentido em: "e após isto atribuo que entrassem a ficar crescidos".


Os Textos 11 e 12 servem de base à Questão 11.

Texto 11

"Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. 
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia."
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1994. p. 35. Excertos.

Texto 12

"E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas de fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade de terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em tomo da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. [...]"
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1994. p. 73. Excertos.

UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 11
Com base na leitura dos Textos 11 e 12, e considerando as características da obra de Aluísio Azevedo, assinale a alternativa CORRETA

a) Em conformidade com a visão idealizada de mundo proposta pelas correntes do Simbolismo e do Determinismo, as personagens do romance “O Cortiço” moldam-se ao meio e transformam-se na relação de passividade com o espaço social.

b) No romance de Aluísio Azevedo, o Cortiço ganha vida e assume destaque como personagem principal, tendo em vista o processo de personificação do espaço (Cortiço), em diversas passagens da narrativa, como se nota no Texto 11.

c) O Texto 12 mostra que a visão de Jerônimo sobre Rita Baiana deve ser considerada zoomorfismo, característica que consiste na desvalorização das personagens femininas e que perpetua o machismo típico da sociedade representada na obra de Aluísio Azevedo.

d) A descrição de Rita Baiana (Texto 12) mostra elementos da cultura brasileira, resgatando-se traços da primeira geração do Romantismo no Brasil, por meio da idealização feminina que exalta a identidade nacional. 

e) A obra “O Cortiço” evidencia como a mistura de diferentes raças e etnias, em um mesmo meio, propicia a degradação humana, ressaltando-se que as personagens precisam se acomodar aos papéis sociais determinados no Realismo brasileiro.


Os Textos 13, 14, 15 e 16 servem de base à Questão 12.

Texto 13 

LIVRE 
Cruz e Sousa

Livre! Ser livre da matéria escrava,
Arrancar os grilhões que nos flagelam
E livre, penetrar nos Dons que selam
A alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
Livre da humana, da terrestre bava
Dos corações daninhos que regelam,
Quando os nossos sentidos se rebelam
Contra a Infâmia bifronte que deprava.
Livre! bem livre para andar mais puro,
Mais junto à Natureza e mais seguro
Do seu Amor, de todas as justiças.
Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
CRUZ E SOUSA. Livre. Disponível em:
https://www.escritas.org/pt/t/10984/livre
Acesso em: 13/09/2020.

Texto 14

VIOLÕES QUE CHORAM
 Cruz e Sousa

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
[...]
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.
[...]
CRUZ E SOUSA. Violões que choram. Excertos.
Disponível em: http://www.algumapoesia.com.br
Acesso em: 13/09/2020.

Texto 15

DA SENZALA...
Cruz e Souza

De dentro da senzala escura e lamacenta
Aonde o infeliz
De lágrimas em fel, de ódio se alimenta
Tornando meretriz

A alma que ele tinha, ovante, imaculada
Alegre e sem rancor,
Porém que foi aos poucos sendo 
transformada
Aos vivos do estertor...

De dentro da senzala
Aonde o crime é rei, e a dor – crânios 
abala
Em ímpeto ferino; 

Não pode sair, não,
Um homem de trabalho, um senso, uma 
razão...
e sim um assassino!
CRUZ E SOUSA. Da senzala. Disponível em:
http://www.letras.ufmg.br. Acesso em: 13/09/2020.

Texto 16

O imenso sucesso de “Pantera Negra” e a maneira com que o filme impactou principalmentecrianças negras em todo o mundo é a medidaconcreta da importância da representatividade nos mais diversos meios – e especialmente em uma frente cultural tão popular quanto é o cinema.

O diferencial é evidente: o herói do filme é negro, e sua história em todo o seu sentido passa pela afirmação de sua identidade.

Além de impactar especialmente o público infantil que tanto pôde finalmente se identificar com o personagem nas telas, a triste morte do ator Chadwick Boseman que interpretou o personagem T’Challa, rei de Wakanda e Pantera Negra, trouxe ainda mais o tema da representatividade para o foco.
Disponível em: https://www.hypeness.com.br
Acesso em: 12/09/2020.

UPE 2021 (2ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 12
Com base na leitura dos Textos 13, 14, 15 e 16, e considerando as características da obra de Cruz e Sousa, assinale a alternativa CORRETA

a) A obra de Cruz e Sousa apresenta traços da poesia parnasiano-simbolista, com foco na "arte pela arte", ou seja, na busca pela perfeição das estruturas poéticas, na descrição detalhada de objetos e no rigor sintático-estético, características permeadas por valores clássicos. 

b) A poesia de Cruz e Sousa evidencia influências da biografia do poeta, filho de escravos alforriados. Sua poesia mostra, predominantemente, a temática do racismo e a situação dos escravos no Brasil, dando continuidade aos preceitos do Condoreirismo, conforme os Textos 13 e 15.

c) O racismo é a temática predominante da poética de Cruz e Sousa, poeta que dá destaque à figura do negro na literatura, como nos Textos 13, 14 e 15. Esse destaque na representação da identidade negra também está presente no Texto 16, em que "Pantera Negra" traduz a representatividade de um herói negro, especialmente para o público infantil.

d) O Texto 13 é um exemplo típico da poesia parnasiano-simbolista de Cruz e Sousa, visto que mostra a preocupação do sujeito lírico com a liberdade formal e a busca da perfeição poética, com destaque para descrições objetivas, negação do sentimentalismo e para a rigidez dos versos brancos.

e) O Texto 14 apresenta características da poesia simbolista, a exemplo da musicalidade que aproxima a poesia da música, por meio de "aliteração" e "assonância" nos versos: “Vozes veladas, veludosas vozes,/Volúpias dos violões, vozes veladas,/Vagam nos velhos vórtices velozes/Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas”.



Redação UPE 2021:

LÍNGUA PORTUGUESA

Os Textos 1, 2, 3, 4 e 5 servem de base às Questões 01 e 02.

Texto 1

AMARAL, Tarsila do. Abaporu (1928).
AMARAL, Tarsila do. Abaporu (1928). 
Museu Malba de Arte Latino-Americana, Buenos Aires, Argentina. 
Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1628/abaporu 
Acesso em: 01/08/2020.

Texto 2

AMARAL, Tarsila do. Abaporu (1928).
Disponível em: 
https://www.urbanarts.com.br/allstarporu-abaporu-remastered-68085/p 
Acesso em: 01/08/2020.

Texto 3

"Só a Antropofagia nos une. Socialmente. 
Economicamente. Filosoficamente. 
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos 
os individualismos, de todos os coletivismos. 
De todas as religiões. De todos os tratados de paz. 
Tupi, or not tupi that is the question. 
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. 
Lei do antropófago." 
ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropofágico. 
In: Revista de Antropofagia. São Paulo, n. 01, 
1º maio 1928 – Excertos.

Texto 4

Disponível em:
http://1.bp.blogspot.com/_f5_poNdYa7M/TMW95
2kKMvI/AAAAAAAADXQ/C7tdZzDBqt8/s1600/ju
stica_macunaima.jpg
Acesso em: 01/08/2020.

Texto 5

POÉTICA
Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e 
 [manifestações de apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho 
 [vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar
 [com cem modelos de cartas e as diferentes 
 [maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. 
 
BANDEIRA, Manuel. Poética. In: MORICONI, Ítalo.
Os cem melhores poemas brasileiros do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. (Adaptado)

UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 01
A primeira fase do Modernismo brasileiro contemplou artistas diversos que exploraram diferentes tendências e estilos.

A Semana de Arte Moderna foi um marco nessa fase e teve a participação de artistas que defendiam uma nova visão de arte, a partir de uma estética inovadora, inspirada nas vanguardas europeias.

Com base nas leituras dos Textos 1, 2, 3, 4 e 5, e considerando as características da primeira fase do Modernismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA.

a) A obra Abaporu (Texto 1) marca a fase futurista da pintora Tarsila do Amaral. O Texto 2 é uma releitura da tela Abaporu e incorpora elementos do Futurismo, como a valorização da tecnologia e da velocidade.

b) O Manifesto Antropofágico (Texto 3), elaborado por Oswald de Andrade, pregava a assimilação de outras culturas, copiando fielmente características e reproduzindo estilos europeus canônicos para valorizar a identidade brasileira.

c) A Semana de Arte Moderna mostrou forte influência das vanguardas europeias e buscou divulgar padrões estéticos realistas e naturalistas na construção idealizada de uma identidade nacional. 

d) O Texto 4 destaca a preguiça, característica principal do protagonista da novela surrealista Macunaíma, escrita por Mário de Andrade, autor cuja participação na Semana de Arte Moderna (1922) foi discreta e limitada.

e) No Texto 5 (Poética), propõe-se uma nova forma de lirismo, com foco na concepção libertária da criação poética: "Não quero mais saber do lirismo que não é libertação".


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 02
Para compreender a argumentação pretendida no Texto 4, em seus elementos contextuais mais relevantes e atuais, é necessário admitir que o autor

a) apresenta uma mulher negra como representante da Justiça, ao invés da tradicional deusa grega, como forma de protestar contra as políticas afirmativas.

b) cita o famoso personagem de Mário de Andrade com a intenção explícita de enaltecer o Brasil, sua tradição e, principalmente, sua gente.

c) emprega elementos gráficos inspirados na linguagem do grafite para representar pontos de vista discordantes.

d) revela a intenção de atualizar a famosa obra de Mário de Andrade (Macunaíma, o herói sem nenhum caráter), tornando-a mais atraente a novos leitores.

e) satiriza a ineficiência da Justiça brasileira quando a representa por meio do personagem "Macunaíma" e seu conhecido bordão "Ai que preguiça!".


Texto 6 serve de base às Questões 03, 04, 05 e 06.

TEXTO 6

Com a vida em xeque diante da COVID-19, ser humano descobre
a empatia e a solidariedade como atos de preservação da espécie 

Um olhar voltado para o cuidado e a atenção com o outro

"Poderia haver maior milagre do que olharmos com os olhos do outro por um instante?" A indagação é de Henry David Thoreau, historiador e filósofo americano, que morreu em 1862. No mundo individualista do século 21, será que ainda há lugar para o ser humano praticar a empatia? Ser solidário? Ter olhar para a cooperação social? Sim. Ainda bem. Caso contrário, a espécie estaria com os dias contados. Não está. Ela sobrevive porque em toda parte há pessoas que espalham o antídoto do amor e da generosidade ao ajudar quem precisa. E não só para quem está à margem da sociedade. 

Philia, termo tirado do tratado Ética a Nicômaco, de Aristóteles, pode ser traduzido como amizade, amor e também empatia, ou seja, uma espécie de afeição e apreço por outra pessoa. O modo como o filósofo aplicava o termo é uma inspiração para o tempo atual: "Fazer o bem; fazer sem que seja solicitado". Assim agem muitos brasileiros diante dos desafios provocados pela pandemia do novo coronavírus. É um trabalho de formiguinha, incansável, com cada um fazendo um pouco, que somado a outro pouco leva esperança e alento a muitas pessoas.
 
O filósofo australiano Roman Krznaric, fundador da The School of Life de Londres (badalada escola inglesa que oferece cursos livres na área de Humanidades) e descrito pelo Observer com um dos mais importantes pensadores britânicos dedicados ao estudo dos estilos de vida, acredita que a empatia pode criar uma grande mudança social. Em seu livro Empathy – A handbook for revolution (―O poder da empatia – A arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo", Editora Zahar), ele escreveu sobre o que chama de "a tragédia da Era da Introspecção", com o intenso foco no eu.

Para o filósofo, é hora de tentar algo diferente. "Há mais de 2 mil anos, Sócrates aconselhou que o melhor caminho para viver bem e com sabedoria era o 'conhece-te a ti mesmo'". Pensam convencionalmente que isso exige autorreflexão: que olhemos para dentro de nós e contemplemos nossas almas. Mas podemos também passar a nos conhecer saindo de nós mesmos e aprendendo sobre vidas e culturas diferentes das nossas. É hora de forjar a 'Era da Outrospecção', e a empatia é nossa maior esperança para fazer isso."

Não que a empatia seja uma panaceia universal para todos os problemas do mundo, nem para todas as lutas da vida, mas ela faz a diferença na vida do outro e na própria existência. São ações diversas, inspiradoras e que podem despertar a mesma atitude em mais pessoas em dias tão difíceis. [...] 

O mundo vive um sofrimento global, talvez sem precedentes na história. Diante de um inimigo comum, todos são afetados. Logo, a única alternativa é enfrentá-lo juntos e com esperança de que tudo "dará certo", como tem sido o lema mundial. O momento é, portanto, de comunhão. A psicóloga clínica Maria Clara Jost, pós-doutora em Psicologia, professora da Faculdade de Ciências Médicas e pós-graduada em Filosofia, lembra que quanto mais a pessoa se fecha em um casulo menos descobre sobre si e sobre os seus valores mais próprios, acabando por intensificar sofrimentos já existentes, tendendo ao adoecimento em diversas esferas do ser.

Por outro lado, ressalta Maria Clara, se somos constituídos na relação que estabelecemos com os outros, desde o útero, então, quanto mais nos posicionarmos no sentido de abertura ao mundo, ao outro e à coletividade, em um movimento autotranscendente, maior a possibilidade de encontrar quem, muitas vezes, estava escondido num turbilhão de afazeres, por vezes sem sentido: nós mesmos.
Lilian Monteiro. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/bem-viver/2020/04/26/interna_bem_viver,1141208/com-a-vida-em-xeque-diante-da-covid-19-ser-humano-descobre-a-empatia.shtml Acesso em: 30/06/2020. (Adaptado)

UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 03
Considerando a proposta temática do Texto 6, é CORRETO afirmar que duas de suas palavras-chave são: 

a) "sobrevivência" e "sociedade".

b) "alteridade" e "autoconhecimento".

c) "coronavírus" e "introspecção".

d) "pandemia" e "philia".

e) "empatia" e "inimigo".


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 04
Para desenvolver sua tese, a autora do Texto 6 se respalda no pensamento de alguns filósofos.

Em relação a Roman Krznaric, por exemplo, a autora demonstra sua adesão à seguinte ideia:

a) A introspecção é o caminho mais seguro para uma verdadeira mudança social.

b) Para quem pretende conhecer-se a si mesmo, o segredo é manter o foco no eu.

c) As relações empáticas têm forte poder transformador em nossa sociedade.

d) A autorreflexão nos obriga a aprender sobre vidas e culturas diferentes das nossas.

e) Pela "outrospecção", olhamos para dentro de nós e contemplamos nossas almas.


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 05
Para alcançar o seu interlocutor e convencê-lo a aderir às suas ideias, é comum o autor citar alguma autoridade no assunto.

No Texto 6, Roman Krznaric é referido com diferentes expressões que servem não só para identificá-lo como também para defini-lo e mostrar ao leitor as suas credenciais. 

Assinale, entre as alternativas abaixo, a única expressão que NÃO está empregada no texto para referir Roman Krznaric. 

a) "historiador e filósofo americano" (1º parágrafo)

b) "o filósofo australiano" (3º parágrafo)

c) "fundador da The School of Life de Londres" (3º parágrafo) 

d) "um dos mais importantes pensadores britânicos" (3º parágrafo)

e) "o filósofo" (4º parágrafo)


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 06
Releia o seguinte trecho do Texto 6: "(...) podemos também passar a nos conhecer saindo de nós mesmos e aprendendo sobre vidas e culturas diferentes das nossas. É hora de forjar a 'Era da Outrospecção' (...)" (4º parágrafo). Considerando que o autor busca aconselhar o seu interlocutor e persuadi-lo a realizar uma ação (É hora de forjar a 'Era da Outrospecção‘), conclui-se que essa sequência do texto é de tipologia 

a) argumentativa.
b) descritiva.
c) dialogal.
d) injuntiva.
e) narrativa.


Os Textos 7, 8, 9 e 10 servem de base às Questões 07, 08 e 09.

Texto 7

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
[...] 
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
[...] 
Somos muitos Severinos 
iguais em tudo e na sina: 
a de abrandar estas pedras 
suando-se muito em cima, 
a de tentar despertar 
terra sempre mais extinta, 
[...] 
MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina. Excertos. 
Disponível em:
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/morte_e_vida_severina/ 
Acesso em: 30/07/2020.

Texto 8

SALGADO, S. "Os pobres trabalhadores da Terra"

Texto 9

A COMPADECIDA – João foi um pobre 
como nós, meu filho. Teve de suportar as 
maiores dificuldades, numa terra seca e 
pobre como a nossa. Não o condene, 
deixe João ir para o purgatório.

JOÃO GRILO – Para o purgatório? Não, 
não faça isso assim não. [Chamando a 
Compadecida à parte]. Não repare eu 
dizer isso, mas é que o diabo é muito 
negociante e com esse povo a gente 
pede o mais para impressionar. 
A senhora pede o céu, porque aí o acordo 
fica mais fácil a respeito do purgatório.

A COMPADECIDA – Isso dá certo lá no 
sertão, João! Aqui se passa tudo de outro 
jeito! Que é isso? Não confia mais na sua 
advogada?

JOÃO GRILO – Confio, Nossa Senhora, 
mas esse camarada enrolando nós dois.
A COMPADECIDA – Deixe comigo. [a 
Manuel]. Peço-lhe então, muito 
simplesmente, que não condene João.
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. Rio de 
Janeiro, Agir, 2005. Excertos. Disponível em: 
https://vermelho.org.br/2014/07/25/auto-da-compadecida/ Acesso em: 09/08/2020.

Texto 10

O alto da compadecida
Disponível em: 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-120824/
Acesso em: 08/08/2020.

UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 07
Acerca dos processos figurativos empregados no Texto 7 e de sua repercussão na interpretação desse poema, analise as afirmativas a seguir.

1) A expressão "vida severina" institui um conceito metafórico que pode ser associado a uma vida plena, porque profundamente identificada com o ambiente físico do Nordeste.

2) Nos versos: "Somos muitos Severinos/iguais em tudo na vida/ iguais em tudo e na sina", opera-se uma metonímia em que o "homem indivíduo", tomado como "homem coletivo", perde sua singularidade, sua identidade.

3) A metáfora do "sangue com pouca tinta" alude ao estado de desnutrição dos muitos severinos que passam privações.

4) A expressão "abrandar estas pedras" pode ser interpretada como suavizar a luta cotidiana pela sobrevivência, em um meio físico bastante adverso.

Estão CORRETAS

a) 1, 2 e 3, apenas.
b) 1 e 4, apenas.
c) 2, 3 e 4, apenas.
d) 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 08
A literatura e a fotografia podem ser compreendidas como instrumentos de denúncia social. Na literatura, as obras Morte e Vida Severina e Auto da Compadecida destacam-se na representação de personagens que revelam seus conflitos no enfrentamento de questões sociais, como: fome, pobreza, desemprego e violência.

Na fotografia, Sebastião Salgado imprime maior dramaticidade à cena, ao empregar o preto e o branco.

Considerando a leitura dos Textos 7, 8, 9 e 10, as características estilísticas e o contexto de produção das obras de João Cabral de Melo Neto e de Ariano Suassuna, assinale a alternativa CORRETA

a) A obra Morte e Vida Severina revela a trajetória de Severino, personagem que representa simbolicamente a condição social de muitos nordestinos: "Somos muitos Severinos/iguais em tudo na vida".

b) A obra Auto da Compadecida (Texto 9) foi adaptada para o cinema brasileiro (Texto 10) com significativas alterações para a linguagem fílmica. A narrativa apresentada no filme explora intensamente a comédia e não revela sintonia com o enredo do texto dramático de Ariano Suassuna.

c) No Texto 9, cena da obra original do Auto da Compadecida, a Compadecida intercede por João Grilo, justificando os erros dele como decorrentes da sua precária condição social. Essa cena não foi apresentada na adaptação do Auto para o cinema, considerando o filme dirigido por Guel Arraes.

d) Exemplos da prosa regionalista de 1930, os Textos 7 e 9 dialogam na denúncia social quando apresentam Severino e João Grilo como estereótipos do nordestino brasileiro. Tais personagens têm em comum a astúcia, a preguiça e a falta de fé.

e) O Texto 7 estabelece conexões com o Texto 8 na representação romântica da vida Severina, considerando a imagem dos pés de "pobres trabalhadores da terra". Literatura e fotografia unem-se na denúncia social por meio de linguagens não verbais.


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 09
Também os textos literários são elaborados com enunciados nos quais geralmente podemos reconhecer algumas relações semânticas.

Acerca dessas relações, assinale a alternativa CORRETA.

a) "Como há muitos Severinos, / que é santo de romaria, / deram então de me chamar / Severino de Maria;". Nesse trecho do Texto 7, o conjunto dos dois primeiros versos mantém com os versos subsequentes uma relação de causa.

b) "Somos muitos Severinos / iguais em tudo e na sina: / a de abrandar estas pedras / suando-se muito em cima,". Nesse trecho do Texto 7, o conjunto dos dois versos finais mantém com os versos anteriores uma relação de consequência.

c) "Não repare eu dizer isso, mas é que o diabo é muito negociante [...]". Nesse trecho do Texto 9, a relação que se percebe entre os segmentos é de conclusão, embora eles estejam conectados por um "mas".

d) "Peço-lhe então, muito simplesmente, que não condene João.". Nesse trecho do Texto 9, o conectivo "então" explicita uma relação semântica de condição.

e) No Texto 10, entre "O auto da compadecida" e "A comédia mais engraçada do ano." está implícita uma relação semântica de comparação.


Os Textos 11, 12, 13 e 14 servem de base à Questão 10.

Texto 11

DE MÃOS DADAS
Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus 
companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes 
esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos 
dadas.
[...]
O tempo é a minha matéria, o tempo 
presente, os homens 
[presentes, a vida presente.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do Mundo. Rio 
de Janeiro, Record, 2000. Disponível em: 
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/maos_dadas_poem
a_drummond/ Acesso em: 08/08/2020.

Texto 12

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: 
meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
[...]
Pouco importa venha a velhice, que é a 
velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma 
criança. [...]
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do Mundo. Rio 
de Janeiro, Record, 2000. Disponível em:
http://www.releituras.com/drummond_osombros.asp Acesso 
em: 08/08/2020.

Texto 13

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
Mario Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... 
Quando se vê, já é 6ª feira... 
Quando se vê, passaram 60 anos... 
Agora, é tarde demais para ser reprovado... 
E se me dessem — um dia — uma outra oportunidade, 
eu nem olhava o relógio 
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada 
e inútil das horas.
QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. 
Disponível em: 
http://cabana-on.com/Ler/wp-content/uploads/2017/09/Mario-Quintana-Esconderijos-do-Tempo.pdf Acesso em: 08/08/2020.

Texto 14

DALÍ, Salvador. A Persistência da Memória (1931).

UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 10
A preocupação com o tempo revela-se em expressões artístico-literárias a partir de diferentes perspectivas.

Na literatura, vários poetas escreveram sobre a dimensão temporal, evidenciando preocupação com questões existenciais. Na pintura, Salvador Dalí representou o tempo com foco nos padrões estéticos do Surrealismo.

Com base na leitura dos Textos 11, 12, 13 e 14, e considerando as características das produções poéticas de Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, bem como a estética do Surrealismo, assinale a alternativa CORRETA.

a) O poema "De mãos dadas" (Texto 11) revela características da terceira fase do Modernismo brasileiro, marcada pela consolidação dos ideais modernistas, com uma lírica mais reflexiva e ênfase em elementos da tradição simbolista.

b) No poema "Seiscentos e sessenta e seis" (Texto 13), o sujeito lírico expõe sua alegria com a transitoriedade do tempo, refletindo sobre o passar do tempo e as ações realizadas na vida, configurando-se a mesma visão poética apresentada em "Os ombros suportam o mundo" (Texto 12).

c) No poema "De mãos dadas" (Texto 11), o sujeito lírico revela sua preocupação com o tempo presente, considerando a esperança e a união entre as pessoas, conforme os versos: "O presente é tão grande, não nos afastemos./ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas".

d) Os poemas de Quintana e Drummond (Textos 11, 12 e 13) apresentam características da poesia modernista em sua primeira fase, com transgressões à norma culta, e refletem a mesma visão sobre a transitoriedade da vida, sob um olhar poético pessimista, sem esperança.

e) Na tela "A Persistência da Memória" (Texto 14), o tempo cronológico do consciente é representado na estética expressionista, considerando que Dalí foi influenciado por algumas das teorias da psicanálise de Freud. Na tela, os relógios derretidos materializam a noção de efemeridade do tempo.


Os Textos 15, 16, 17, 18 e 19 servem de base às Questões 11 e 12.

Texto 15

PRISÃO
Cecília Meireles

Nesta cidade 
quatro mulheres estão no cárcere. 
Apenas quatro.
Uma na cela que dá para o rio,
outra na cela que dá para o monte,
outra na cela que dá para a igreja
e a última na do cemitério
ali embaixo.

[...]

Quatrocentas mulheres
quatrocentas, digo, estão presas:
cem por ódio, cem por amor,
cem por orgulho, cem por desprezo
em celas de ferro, em celas de fogo,
em celas sem ferro nem fogo, somente
de dor e silêncio,
quatrocentas mulheres, numa outra cidade,
quatrocentas, digo, estão presas.

Quatro mil mulheres, no cárcere,
e quatro milhões – e já nem sei a conta,
em cidades que não se dizem,
em lugares que ninguém sabe,
estão presas, estão para sempre
– sem janela e sem esperança,
umas voltadas para o presente,
outras para o passado, e as outras
para o futuro, e o resto – o resto,
sem futuro, passado ou presente,
presas em prisão giratória,
presas em delírio, na sombra,
presas por outros e por si mesmas,
tão presas que ninguém as solta,
e nem o rubro galo do sol
nem a andorinha azul da lua
podem levar qualquer recado
à prisão por onde as mulheres
se convertem em sal e muro.
MEIRELES, Cecília. Prisão. Excertos. Disponível em: 
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
83332006000200013&script=sci_arttext
Acesso em: 08/08/2020.

Texto 16

GRANDE DESEJO
Adélia Prado

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar 
o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma 
igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.
Disponível em:
https://www.tudoepoema.com.br/adelia-prado-grande-desejo/
Acesso em: 08/08/2020.

Texto 17

"Estou consciente de que tudo o que sei não 
posso dizer, só sei pintando ou pronunciando, 
sílabas cegas de sentido. [...] Então escrever 
é o modo de quem tem a palavra como isca: a 
palavra pescando o que não é palavra. 
Quando essa não palavra – a entrelinha –
morde a isca, alguma coisa se escreveu."
LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Francisco 
Alves, 1993. Excertos. pp.15-25. (Adaptado)

Texto 18

AMARAL, Tarsila do. Autorretrato (1923). Museu  Nacional de Belas Artes (MNBA)
AMARAL, Tarsila do. Autorretrato (1923). Museu 
Nacional de Belas Artes (MNBA). Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/Acesso em: 02/08/2020.

Texto 19

MALFATTI, Anita. A boba (1915-1916). Museu de  Arte Contemporânea, São Paulo
MALFATTI, Anita. A boba (1915-1916). Museu de 
Arte Contemporânea, São Paulo. Disponível em:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1381/a-boba Acesso em: 02/08/2020.

UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 11
No Modernismo brasileiro, as mulheres destacaram-se com suas produções artísticas na pintura e na literatura. Na pintura, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti criaram estilos singulares.

Na literatura, autoras como Cecília Meireles, Adélia Prado e Clarice Lispector elaboraram suas obras, revelando as potencialidades literárias da escrita de autoria feminina.

Com base na leitura dos Textos 15, 16, 17, 18 e 19, e tendo em vista as características da produção artístico-literária de autoria feminina no Modernismo brasileiro, assinale a alternativa CORRETA.

a) No poema "Grande Desejo" (Texto 16), tem-se uma das temáticas mais importantes na obra de Adélia Prado, que é a representação romântica do universo feminino, sem valorização do papel social da mulher à procura do empoderamento feminino.

b) Na obra de Clarice Lispector, a temática psicológica é evidenciada na representação do mundo interior das personagens femininas. O Texto 17 apresenta a epifania, ou seja, a reflexão sobre a própria linguagem em que se percebe uma conexão entre literatura e pintura: "Estou consciente de que tudo o que sei não posso dizer, só sei pintando ou pronunciando, sílabas cegas de sentido".

c) Tarsila do Amaral foi uma importante artista plástica brasileira do Movimento Modernista e destacou-se na segunda fase do Modernismo brasileiro. A tela "Autorretrato" (Texto 18) revela a imagem feminina idealizada, por meio do resgate de padrões clássicos, com desequilíbrio nas cores e formas. 

d) O poema "Prisão" (Texto 15) destaca a falta de liberdade das mulheres, encarceradas, "sem janela e sem esperança". Essa falta de liberdade é evidenciada, no poema, por meio da multiplicidade de prisões, pela diversidade de cárceres e pelos diferentes motivos para o encarceramento.

e) A tela "A Boba" (Texto 19) é considerada uma das obras mais expressivas da pintura de Anita Malfatti, fruto de uma fase em que sua pintura, até então realista, absorve elementos do Impressionismo. A mulher representada na tela possui um olhar distante e se mostra perdida em si mesma.


UPE 2021 (3ª FASE - 1º DIA) - QUESTÃO 12
Nos textos literários, os aspectos formais podem ser analisados como elementos que colaboram para a expressividade.

Acerca de aspectos formais dos Textos 15, 16 e 17, analise as proposições abaixo.

1) No que se refere ao nível de formalidade, podemos dizer que o Texto 17 tende para a informalidade. Apesar disso, sua autora segue as normas de regência nominal, o que se observa, por exemplo, no trecho "Estou consciente de que tudo o que sei não posso dizer". A regência estaria igualmente atendida se a autora tivesse escrito: "Não faço alusão a tudo o que sei".

2) Observe a concordância feita no seguinte trecho do Texto 15: "e nem o rubro galo do sol / nem a andorinha azul da lua / podem levar qualquer recado [...]". O plural empregado na primeira forma verbal (podem) indica que a ação expressa por "podem levar" é praticada, concomitantemente, pelo "rubro galo do sol" e pela "andorinha azul da lua".

3) O sinal indicativo de crase presente no trecho "podem levar qualquer recado / à prisão por onde as mulheres / se convertem em sal e muro" (Texto 15) deveria manter-se se o termo "prisão" fosse substituído pelo termo "cárcere". 

4) Para indicar que o Texto 16 tematiza o cotidiano do século passado, nele está preservada a norma ortográfica que era vigente nesse século, a exemplo de "Adélia", "dói" e "pôr", formas que, após o último Acordo Ortográfico, devem ser grafadas sem acento.

Estão CORRETAS

a) 1, 2, 3 e 4.
b) 1 e 2, apenas. 
c) 2 e 3, apenas. 
d) 1, 3 e 4, apenas. 
e) 2 e 4, apenas.


Nome

curiosidades,2,enade,23,exercícios,4,inglês,1,português,1,provas,82,provas unicesumar,25,questão albert einstein,50,questão analista em tecnologia da informação,76,questão biomedicina,40,questão cfc,100,questão consulplan,168,questão consultor do tesouro estadual,27,questão cremern,27,questão da agirh,25,questão da albert einstein,71,questão da ameosc,15,questão da amrigs,10,questão da avança sp,88,questão da cesgranrio,70,questão da cespe,1,questão da espcex,397,questão da espm,80,questão da famema,168,questão da famerp,212,questão da fapese,10,questão da fatec,217,questão da fcc,120,questão da fepese,205,questão da fgv,883,questão da fmabc,90,questão da fmj,120,questão da fmp,60,questão da fuvest,633,questão da mackenzie,380,questão da oab,466,questão da obmep,162,questão da puc-rj,81,questão da reis&reis,20,questão da santa casa,259,questão da ucpel,64,questão da uece,302,questão da ueg,168,questão da uel,48,questão da uema,159,questão da uesb,60,questão da ufgd,447,questão da ufpel,107,questão da ufrgs,325,questão da ufu,94,questão da unesc,12,questão da unesp,294,questão da unicamp,227,questão da unicesumar,175,questão da uniceub,108,questão da unichristus,54,questão da unifenas,94,questão da unifesp,473,questão da unifor,195,questão da unioeste,164,questão da unirv,147,questão da unisc,45,questão da unitins,157,questão da usp,368,questão de administração,156,questão de administração pública,57,questão de agroindústria,1,questão de agronegócio,29,questão de agronomia,75,questão de alemão,25,questão de arquitetura,10,questão de arquitetura e urbanismo,64,questão de artes,60,questão de artes visuais,25,questão de atualidades,25,questão de biblioteconomia,55,questão de biologia,479,questão de biomedicina,68,questão de ciência da computação,41,questão de ciências,42,questão de ciências biológicas,39,questão de ciências contábeis,99,questão de ciências da natureza,229,questão de ciências econômicas,105,questão de ciências humanas,214,questão de ciências sociais,106,questão de comportamento organizacional,29,questão de concurso,2634,questão de conhecimentos gerais,8,questão de contabilidade,228,questão de design,126,questão de direito,854,questão de direito administrativo,12,questão de direito civil,15,questão de direito constitucional,16,questão de direito penal,28,questão de direito processual penal,21,questão de direito tributário,16,questão de economia,44,questão de economia empresarial,48,questão de educação física,164,questão de enfermagem,85,questão de engenharia,16,questão de engenharia ambiental,55,questão de engenharia civil,46,questão de engenharia elétrica,46,questão de engenharia florestal,55,questão de engenharia mecânica,45,questão de engenharia química,46,questão de ensino religioso,10,questão de espanhol,397,questão de estatística,24,questão de filosofia,215,questão de física,686,questão de fonoaudiologia,88,questão de francês,68,questão de gastronomia,49,questão de geografia,619,questão de gestão ambiental,46,questão 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Questões com Gabarito: Questões de Português UPE 2021 com Gabarito
Questões de Português UPE 2021 com Gabarito
Questões de Português UPE 2021 com Gabarito
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